Autor(a): Holly Black

Editora: Galera Record

Narração: 1ª pessoa

Nº de páginas: 307

Sinopse:

A intrigante e sangrenta continuação do best-seller do New York Times, O príncipe cruel. Vencedor do Goodread Choice Awards 2019. Para sobreviver do Reino das Fadas, Jude Duarte precisou aprender muitas lições. A mais importante delas veio de seu padrasto: o poder é bem mais fácil de adquirir do que de manter. Ela achou que, depois de enganar Cardan para que ele jurasse obedecê-la por um ano e um dia, sua vida se tornaria mais fácil. Mas ter qualquer influência sobre O Grande Rei de Elfhame parece uma tarefa impossível, principalmente quando ele faz de tudo em seu poder para humilhá-la e prejudicá-la, mesmo que seu fascínio pela garota humana permaneça intacto. Agora, com as ondas ameaçando engolir a terra e um alerta de traição iminente, Jude precisa lutar para salvar a própria vida e a daqueles que ama, além de lutar contra seus sentimentos conflituosos por Cardan no meio-tempo. Em um mundo imortal, um ano e um dia não são nada...


Ao deslizar os olhos pelas primeiras palavras de Holly Black em "O Rei Perverso", já somos preparados para o que vai acontecer na jornada de Jude Duarte no Reino das Fadas. Se em "O Príncipe Cruel", vemos a jovem mortal se transformar em uma nova versão de si mesma na busca pelo poder, em "O Rei Perverso", permanecer com o poder é a grande questão.  Nas palavras de Mardoc: O poder é bem mais fácil de adquirir do que de manter (página 13). 

Além de ser um livro de fantasia, "O Rei Perverso" é uma narrativa política. Movimentos são feitos, desfeitos e ninguém é confiável. Parece que a todo momento algo irá acontecer, alguém mudará de lado ou mesmo se revelará em outro alguém. No passo que Jude parecia uma personagem inconstante em "O Príncipe Cruel", sempre surpreendendo o leitor e a si mesma, nesse é ela que olha com desconfiança para todos os lados, medindo milimetricamente o que irá fazer. Se antes ela havia transformado o medo em ódio e com isso conquistando o poder, agora ela segura com tanta força que ele simplesmente desliza por seus dedos.

Antes ela era apenas uma mortal, brincar com ela e a machucar alimentava os desejos cruéis dos feéricos, mas em sua posição atual, Jude pôs um grande alvo em suas costas e fazer parte do jogo de guerra do Reino da Fadas pode não ser tão divertido. 


"A dor fortalece, disse Madoc uma vez, me fazendo erguer uma espada repetidas vezes. Acostume-se com seu peso." Página 171

 

É incrível como Holly nos apresenta um mundo completamente mágico, muito parecido com nossas fantasias infantis, em que todas as possibilidades são possíveis e até as árvores têm vida, mas resolve mostrar o outro lado da moeda. No Reino das Fadas os humanos podem sim ser "felizes", embebidos em uma névoa bonita e enxergar a mais pura beleza, mas nesse meio tempo estão sendo manipulados, sugados e cada dia mais se transformando em cinzas, até que não existam mais. 

Por isso é tão interessante ver uma mortal entrando como peão no jogo de xadrez do Reino das Fadas, querendo se transformar em cavalo, para fazer parte da tropa, e de uma hora para outra se vê como o bispo, a conselheira da realeza, preparada para fazer todas as jogadas e defender o seu rei. Qual seria seu próximo passo?

Só que as coisas se tornam turbulentas e Jude de repente se vê afundando, sem ar, sem forças, se afogando completamente. Assim, deixando o poder deslizar de suas mãos, por mais que as aperte com força o suficiente para tirar o próprio sangue. Então o bispo sai da jogada. As outras peças estão jogando. E o rei, antes o príncipe displicente, se ver desprotegido e tendo que virar a peça mais importante do jogo. Cardan, que antes deixava a coroa pender em sua testa, rindo quase bêbado, a organiza em sua cabeça e se levanta. É a sua hora de jogar.


"— Me beija de novo — pede ele, bêbado e tolo. — Me beija até eu ficar cansado do seu beijo." Página 64

 

É muito claro que mesmo que os títulos dos dois primeiros livros se tratem de Cardan, a protagonista da história é Jude. Ela é a dona da narrativa. A história de Cardan é desenvolvida durante as brechas, como se estivesse rodeando, se preparando, prestes a ser contada. Mas agora suponho que ele terá uma voz tão forte quanto de Jude e que certamente ele irá nos surpreender. Aliás, o que falar da relações deles? É palpável o desejo de ambos um pelo outro e de como a luxúria pode vir agarrada ao ódio. 

Para finalizar, havia dito que o bispo havia saído da jogada, não é? Só que a rainha é a peça mais poderosa de todo o tabuleiro. Ela é capaz de fazer tudo.


             

                                                                                        


 Autor(a): Beth O'Leary 

Editora: Intrínseca

Narração: 1ª pessoa

Nº de páginas: 400

Sinopse:

Eles dividem um apartamento com uma cama só. Ele dorme de dia, ela, à noite. Os dois nunca se encontraram, mas estão prestes a descobrir que, para se sentir em casa, às vezes é preciso jogar as regras pela janela.

Três meses após o término do seu relacionamento, Tiffy finalmente sai do apartamento do ex-namorado. Agora ela precisa para ontem de um lugar barato para morar. Contrariando os amigos, ela topa um acordo bastante inusitado. 

Leon está enrolado em questões financeiras e tem uma ideia pouco convencional para arranjar dinheiro rápido: sublocar seu apartamento, onde fica apenas no período da manhã e da tarde nos dias úteis; já que passa os finais de semanas com a namorada e trabalha como enfermeiro no turno da noite. Só que tem um detalhe importante: o lugar tem apenas uma cama. 

Sem nunca terem se encontrado pessoalmente, Leon e Tiffy fecham um contrato de seis meses e passam a resolver as trivialidades do dia a dis por Post-its espalhados pela casa. Mas será que essa solução aparentemente perfeita resiste a um ex-namorado obsessivo, uma namorada ciumenta, um irmão encrencado, dois empregos exigentes e alguns amigos superprotetores?



Não sei se vocês entendem de crochê, mas do pouco que entendo sei que para se começar uma peça é necessário dar a laçada inicial e fazer a conhecida correntinha. Essa é a base do crochê. O problema é que a correntinha é fácil de fazer mas se não for dado um nó bem feito no final, logo se torna apenas um fio. Por que estou dizendo isso? Bem, Tiffy está tentando construir essa bendita corrente. 


Ela dar o seu primeiro ponto quando decide sair da casa que divide com o ex-namorado, Justin. Não é um movimento fácil, pelo contrário, mas é necessário. É daqui que as coisas vão começar a mudar para ela. Com pouco dinheiro e tendo que pagar para Justin o dinheiro do aluguel dos meses que passou em sua casa, a decisão mais viável é dividir uma cama com um desconhecido. Não bem dividir. O plano é que eles realmente nem se vejam, estando cada um em turnos diferentes na casa. A comunicação de ambos se resumem a bilhetinhos em Post-its, o que poderia ser silencioso e monótono, mas se torna barulhenta e instigante. 


Deixando um pouco a Tiffy e sua correntinha, quero falar sobre Leon. Leon é em enfermeiro de cuidados paliativos e passa a noite e a madrugada em uma casa de repouso trabalhando e precisa muito de dinheiro, por isso a ideia de botar sua cama para "alugar". Só que assim como Tiffy, Leon está passando por um momento complicado, daqueles que decisões bruscas são necessárias. Isso porque seu irmão está preso injustamente. 


Então aqui temos duas pessoas tentando seguir em frente de alguma forma, elas estão lutando para isso. Esse é o primeiro ponto que os amarra. Mas eles são diferentes entre si, é importante frisar. Tiffy é mega colorida, ama um bazar e é super tagarela, já Leon não se importa muito com as cores e nem é de falar muito, é bem mais na dele e tudo bem. Essa inclusive é uma marca que vemos nos bilhetes trocados entre eles. 


"Oi, Leon 


    Não sei. Na verdade, nunca pensei nisso por esse ângulo. Minha reação inicial é: "Sim, ele é bom para mim." Mas não sei. A gente brigava muito, um daqueles casais sobre quem todo mundo gosta de fofocar (a gente já se separou e voltou algumas vezes). É fácil lembrar os momentos felizes - e a gente teve uma porção e foram incríveis -, mas acho que, desde que a gente se separou, só consigo me lembrar disso. Então sei que estar com ele era divertido. Mas será que era bom pra mim? Arg. Não sei.


    Por isso o pão de ló com geleia caseira.


    Bjos, 


    Tify." Página 70


Mas voltando para a correntinha: Tiffy e Leon continuam dando formas a uma simples linha, só que em certos momentos Tiffy trava e desfaz alguns pontos. Isso porque ela está tentando escapar das amarras de um relacionamento abusivo sem ao menos entender que ele a faz mal. Justin frequentemente brinca com seus sentimentos, seu psicológico e a faz duvidar de si mesma, das suas próprias ações e decisões. Então, quando ela está bem, sorrindo e conquistando coisas, já quase solta de sua influência, ele aparece, como um fantasma. É um jogo psicológico e Tiffy está cansada de não entender o que ele quer. Existem momentos que ele a trata bem, diz que a ama, no outro tá com outra mulher, a cobrando por um aluguel. Mas além disso, é que ele a faz duvidar do que ela pensa, do que é melhor para ela. Então ele poda sua autoestima, seus gostos, suas amizades e até mesmo manipula suas decisões, fazendo a acreditar que disse uma coisa quando na realidade disse outra. Por isso que é tão difícil para Tiffy continuar construindo sua correntinha: porque de hora para outra vem uma mão segurando a sua e desfaz todos os pontos construídos com tanto suor. Simplesmente por ele achar que sabe o que é melhor para ela. 


Isso é um relacionamento abusivo. O abusador não precisar gritar, espernear, bater, mas ele machuca tanto e fere seu psicológico que você simplesmente se torna dependente dele, para cuidar e chutar na hora que quiser. 


"Meu pai gosta de dizer que "a vida nunca é simples". É uma de sus frases favoritas


    Na verdade, não concordo. A vida costuma ser simples, mas a gente não nota até que ela se torna absurdamente complicada, tipo quando só se fica feliz por estar bem quando se fica doente, ou quando só se fica feliz com sua gaveta de meias-calças quando se rasga um par e não tem nenhum sobrando." Página 178


Só que entre os post-its engraçadinhos e comidas deixadas um para o outro, Tiffy e Leon criam um laço forte. Ambos se importam verdadeiramente um com o outro. Tiffy se mostra um grande apoio para Leon e toda a situação que ele está passando, dando para ele a pontinha de esperança que tanto precisava. 


Tiffy precisava de alguém que a enxergasse, a valorizasse e fizesse seu sorriso ser mais fácil, que não fosse alguém para apagar o seu brilho e não comemorar suas conquistas. Esse é alguém é Leon. Dessa forma, a relação deles começa na mais pura forma de apoio e empatia. Ambos são gentis um com o outro e era isso que eles precisavam. 


Importante frisar que nessa jornada eles não estavam sozinhos, Gerty, Mo, Richie, Rachel e tantos outros personagens constroem a ponte para que eles se fortalezam individualmente e juntos. 


Quando enfim li a última página e fechei o livro, fiquei muito feliz em ver que a correntinha estava completa e que um nó apertado havia sido feito em seu final. O caminho jamais seria desfeito novamente. 

 


                   




 


Autor(a): Mariana Zapata

Editora: Charme 

Nº de páginas: 480

Narração: 1ª Pessoa

Sinopse: 

Se alguém perguntasse a Jasmine Santos como ela descreveria os últimos anos de sua vida em uma única palavra, ela, definitivamente, usaria uma com quatro letras. Depois de dezessete anos e incontáveis promessas e ossos quebrados, ela sabe que as portas para competir na patinação artística estão começando a se fechar. Mas a oferta mais incrível de sua vida surge por meio de um cara arrogante e idiota que ela passou a última década desejando poder lançar na direção de um ônibus em movimento. Então, Jasmine compreende que precisará reconsiderar tudo. Inclusive Ivan Lukov.

Fazia um tempo que eu não enlouquecia com uma leitura, sabe? Não gritava e surtava com um casal a ponto de me deixar sem sono e xingando para as paredes. E as minhas últimas leituras haviam sido assim: muito boas, mas nada havia realmente mexido comigo e me feito dar pulinhos pela casa. De Lukov, com amor, fez isso. 

A história tem uma premissa simples: Jasmine é uma patinadora maravilhosa, mas não enxerga um futuro bom em sua carreira desde que seu parceiro de patinação a abandonou e agora luta para continuar seguindo seu sonho. Do outro lado temos Ivan, a grande estrela da patinação em dupla, e que agora, precisa de uma parceira nova. E quem seria essa parceira? Jasmine. O problema, claro, é que eles se odeiam. 

Se for comparar a leitura de "De Lukov, com amor" com uma montanha russa de sentimentos, os primeiros que encontramos são a frustração e a decepção. Jasmine deixa bem claro isso quando diz: 

"Preocupar-me em ser um fracasso e uma decepção não eram coisas que se podia consertar. Eles estavam lá. O tempo todo. E se havia uma maneira de trabalhar neles, eu ainda não havia aprendido." Capítulo 3

Ela não é uma personagem boazinha, que sorri para a vida e para todos a sua volta. Ela está cansada, saturada, machucada e quer mandar todo mundo se foder mesmo. Mas ela é dura na queda, forte, e não permite desistir, porque ela a patinação é tudo que tem e é. 

É como se Jasmine fosse uma árvore antiga, de raízes profundas, mas que vem sendo podada durante muito tempo. Parece que ela não consegue crescer, florescer e que quando suas flores começaram a se abrir para sentir o sol, alguém vem e a corta. A chance dela é a agora e ela vai encarar, mesmo que seja com o cara que ela chama de Satã. 

Sobre o Ivan, aí, cara. Enquanto escrevo isso tô igual uma boba sorrindo, porque eu me apaixonei por ele, de verdade. Chego a ficar toda arrepiada! Mas é isso, desde a sua primeira aparição, com seu jeitinho debochado e briguento, eu sabia que ia amar ele, sabia! Se a Jasmine é essa força da natureza, explosiva e sem medo de ser quem ela é, Ivan é um mar calmo, poderoso em sua essência, misterioso, mas um ponto de equilíbrio no meio do furacão. Talvez seja por isso que ambos sejam tão bons juntos. Eles possuem ritmo, sincronia e aprendem a confiar um no outro na marra. Porém, eu realmente acho que o coração de Ivanzinho já batia de um jeito diferente em relação a Jasmine e acho que ele também sabia disso. 

A narrativa é um slown burn, que significa literalmente "chama lenta", ou seja, o casal demora, mais demora, e como demora, pra se pegar. Mas quando se pega, meu amor, não há bombeiro que apague essa chama! Só que essa chama lenta é muito gostosa de acompanhar, porque a autora não tem pressa de desenvolver eles, tanto individualmente como juntos, então vemos como ambos aprendem a ter confiança entre si, como se tornam amigos e se inserem no cotidiano um do outro.  E apesar da Jasmine ter uma família enorme e extremamente carinhosa, é lindo ela se sentir a pessoa favorita de alguém, sentir que alguém confia nela e estar ao seu lado para tudo. 

Voltando para a montanha russa de sentimentos, o momento que me balançou de um lado para o outro e me fez ter um encontro com minhas próprias dores, é a relação machucada de Jasmine com seu pai. "Você pode ter todo o talento do mundo e ainda assim, não valer nada [...]" (Capítulo 11) é essa bendita frase que seu pai disse e a atormenta, mas o que me machucou de verdade foi encontrar a minha dor com a dela, no seguinte trecho:

"Por que era fácil esquecer que o amor era complicado. Que alguém podia te amar e querer o melhor para você e, ao mesmo tempo, parti-la ao meio. Havia algo muito peculiar em amar alguém da maneira errada. Era possível amar demais alguém. Com muita força" Capítulo 17 

Jasmine abre seu coração ao leitor e prova que o amor pode doer muito, principalmente quando você simplesmente não consegue parar de amar aquela pessoa. Eu sinto esse amor que dói desde pequeninha em relação ao meu próprio pai e escrevo tudo isso com lágrimas nos olhos, porque dona Mariana Zapata conseguiu mexer demais comigo e atingiu pontos fortes dentro de mim.

Ainda nesse mesma montanha russa, estamos chegando em seu final, com o coração disparado, os pulmões cansados e a garganta seca de tanto gritar. Depois da adrenalina, vem aquela calmaria e a sensação "ufa, acabou" e aí que encontramos o amor. Após essa longa jornada, com frustrações, decepções, felicidade, raiva e tantas outras coisas, o amor de Ivan e Jasmine fica cristalino. Ambos se amam e não tem como negar isso. Eles demonstram a forma mais pura de amar alguém, que é querendo a felicidade do outro e estando presente. Ambos estão ali, um para o outro, agarrados a uma corda invisível, não deixando que o outro se perca dentro de si.  

"Amor para mim era honestidade. Ser verdadeiro. Conhecer alguém em seu melhor e pior. O amor era um impulso que dizia que alguém acreditava em você quando você não acreditava em si mesmo." Capítulo 18