Autor(a): Daniel Keyes 

Editora: Aleph

Nª de Páginas: 288

Narração: 1ª pessoa 

Sinopse:

Uma cirurgia revolucionária promete aumentar o QI do paciente. Charlie Gordon, um homem com deficiência intelectual severa, é selecionado para ser o primeiro humano a passar pelo procedimento. O experimento é um avanço científico sem precedentes, e a inteligência de Charlie aumenta tanto que ultrapassa a dos médicos que o planejaram. Entretanto, Charlie passa a ter novas percepções da realidade e começa a refletir sobre suas relações sociais e até o papel de sua existência.

Delicado, profundo e comovente, Flores para Algernon é um clássico da literatura norte-americana. A obra venceu o prêmio Nebula e inspirou o filme Os Dois Mundos de Charly, ganhador do Oscar de Melhor Ator, um musical na Broadway e homenagens e referências em diversas mídias.


Já me sentei diversas vezes na frente do computador, olhando para uma tela em branco ou mesmo com o lápis em mão e simplesmente não consegui escrever nada que me agradasse. Como poderia botar em palavras tudo o que foi a leitura de Flores para Algernon? Por onde começar? Como desenvolver? Como terminar? Não sei. 

Só que decidi tentar mais uma vez. 

Flores para Algernon de Daniel Keyes, publicado originalmente em 1959, é um livro sincero. A narrativa conta a história de Charlie Gordon, um homem de 32 anos, com deficiência intelectual e prestes a realizar uma cirurgia para aumentar seu QI. A história é narrada do ponto de vista de Charlie. Nos primeiros capítulos, a mente do protagonista é de uma criança, e essa criança em um corpo de adulto, apenas deseja ser inteligente para ter amigos. Escrevendo com erros, sem pontos, ou vírgulas, senti Charlie se infiltrar nas minhas veias. Escutei nele, a voz de tantos meninos e meninas que apenas querem ser abraçados e vistos como seres humanos. 

"Não mimporto muito em ser famoso. Só quero ser esperto como as outras peçoas para poder ter amigus que gostam de mim." Relatório de Progresso 6

O primeiro ponto de virada da narrativa é a cirurgia de Charlie. É devido a ela que a história de fato começa a se desenvolver. As mudanças não são automáticas e começamos a sentir os efeitos do procedimento com as alterações da escrita de Charlie. Os erros aos poucos vão sumindo e os pontos e virgulas começam a aparecer. Daniel Keyes foi muito inteligente em utilizar o texto como ferramenta narrativa, e assim, conseguiu tornar o livro mais rico ainda. 

Talvez o segundo ponto crucial no livro, seja o fato de Charlie acabar se tornando mais inteligente que os próprios médicos que realizaram sua cirurgia. Porém, ao mesmo tempo em que ele se torna mais inteligente, mais as pessoas se afastam dele. Ao enfrentar a realidade sem a névoa da mentalidade infantil, Charlie acaba confrontando um mundo diferente daquele que conhecia. Um mundo que machuca e não necessariamente é justo com todos. A busca pela compressão de tantas variáveis da humanidade, fazem Charlie questionar tudo. 

"Que estranho é o fato de pessoas de sensibilidade e sentimentos honestos, que não tirariam vantagem de um homem que nasceu braços ou pernas ou olhos, não verem problema em maltratar um homem com pouca inteligência." Relatório de Progresso 14

Apesar de ser um livro curto, tentei fazer a leitura em pequenas doses, como se fosse um remédio que se toma todo dia. E mesmo assim não fui imune a todos os sentimentos que me envolveram ao longo da narrativa. Acompanhar Charlie me tirou o fôlego. Na realidade, a história do homem que apenas queria ter amigos e ser feliz me pega até hoje e me fez escrever toda essa resenha chorando. 

Nas últimas páginas, com a visão já porrada, tive certeza que estava lendo um dos melhores livros da minha vida. No fim (como Letícia bem disse), só queria deixar flores para Algernon.