Eu sei exatamente o que é estar à beira de um abismo e sentir uma linha tênue abaixo dos seus pés, prestes a se partir, deixando você cair. Eu sei porque milhões de vezes eu me ponho neste lugar, brincando com a vida como se fosse um jogo o qual eu sempre posso manipular para ganhar - mesmo sabendo que no último jogo, eu vou acabar perdendo. Estar nesta beirada é ter poder nas minhas escolhas. Eu sei porque eu estou aqui agora mesmo. Olhar lá para baixo e me sentir aqui em cima é saber o que eu quero para a minha vida. É querer mais do que tudo pular, pois metaforicamente tudo já está caindo antes de mim, mas saber que eu não posso fazer isso. 
Estar ali, também é crer em mim. É crer que eu posso me dar uma segunda chance, que aquilo pode ser um recomeço para mim, que basta o abismo dentro de mim do qual eu caio todos os dias. Eu me afasto da beirada. Não por medo da queda ou de altura. Afasto-me por medo de mim mesma. E se, em um súbito, eu decido pular? Quantas coisas eu amenizaria, quantas coisas eu mudaria aqui, dentro de mim? E o engraçado é que eu saí de casa disposta a pular. Eu saí tão confiante e certa de que o faria que eu já até me envergonho do meu medo agora. Eu queria ir, não queria? Por que simplesmente não consigo agora?
Mas eu devo confessar que, por mais estranho que pareça ser, estar na pontinha deste abismo me traz uma sensação incrível de autocontrole. Outras milhões de pessoas podem achar que estou ali pronta para pular; eu acho que estou ali tendo controle sobre o meu próprio corpo, sã de minhas atitudes, portanto, decido não pular. Sou dona dos meus próprios pés. Eu mesma decido o que fazer com eles. Entretanto, também confesso que isso tudo que eu acabei de dizer neste parágrafo é só mais uma forma de mentir para mim mesma. A quem eu quero enganar? Eu só tenho medo. Sou orgulhosa demais para admitir que tenho medo de ir, pois outros abismos dos quais pulei já me levaram à caminhos que jamais gostaria de voltar. Não sei se neste eu posso confiar, muito embora me pareça muito seguro lá embaixo. É convidativo, tem um cheiro gostoso e um abraço do qual eu nunca gostaria de sair.
O meu maior abismo é amar você.


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