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(via Amazon)

Um milhão de finais felizes

Autor: Vitor Martins
Editora: Globo Alt
Páginas: 352
Lançamento: 26/06/2018

Sinopse: Jonas não sabe muito bem o que fazer da vida. Entre suas leituras e ideias para livros anotadas em um caderninho de bolso, ele precisa dar conta de seus turnos no Rocket Café e ainda lidar com o conservadorismo de seus pais. Sua mãe alimenta a esperança de que ele volte a frequentar a igreja, e seu pai não faz muito por ele além de trazer problemas.
Mas é quando conhece Arthur, um belo garoto de barba ruiva, que Jonas passa a questionar por quanto tempo conseguirá viver sob as expectativas de seus pais, fingindo ser uma pessoa diferente de quem é de verdade. Buscando conforto em seus amigos (e na sua história sobre dois piradas bonitões que se parecem muito com ele e Arthur), Jonas entenderá o verdadeiro significado de família e amizade, e descobrirá o poder de uma boa história.

Comecei 2019 lendo Um milhão de finais felizes como parte do meu projeto de ler mais neste ano. É verdade que eu achei que leria muito mais depois que entrasse na faculdade, mas é ainda mais verdade que eu fico atolada de coisas da faculdade para ler e não consigo ler coisas mais leves. Este é o meu segundo livro de janeiro, só que o outro não me instigou a escrever uma resenha; mas, esse, sim.
Vitor Martins é um youtuber ao qual eu assisti pouquíssimas vezes; contudo, vi muitos falarem sobre os livros e quis saber do que se tratava. Porém, a princípio, eu sabia que ele é gay e que gosta de ler/escrever sobre o tema - e eu sei que isso é o "sobre o autor" mais superficial que vocês já viram, mas eu preciso ser sincera sobre o que eu sabia.
Aí, já na sinopse do livro, comecei a ter as primeiras impressões. Tive a experiência que relatei aqui de, em Os Dois Mundos de Astrid Jones, me deparar com aquele processo em que o adolescente descobre/questiona a sua sexualidade e tem toda aquela fase de ter o primeiro beijo com alguém de quem realmente gosta, contar para os pais, lidar com os preconceitos e os obstáculos de ser fora do padrão. Eu confesso que tenho certa preguiça de livro que segue essa linha; acho que a comunidade LGBTQ+ tem muito mais coisa para falar do que só essa transição de "sair do armário" como eixo principal, sabe? Agora, imagine você tamanha foi a minha surpresa e alívio ao perceber que o livro em questão não se tratava disso. (Um adendo - ou mais que isso: Talvez Os Dois Mundos de Astrid Jones não seja apenas sobre essas descobertas de Astrid e eu apenas não tenha me conectado com o livro da forma que poderia; cada um com suas impressões. No post sobre a história de Astrid, eu disse que não entendia a necessidade de se assumir não-hétero, porque ninguém precisa se assumir hétero, nem é julgado por isso - hoje, eu já vejo de uma outra forma, como se o ato de assumir seja também uma forma de ser resistência e já considero como algo muito importante, para que se empodere e procure por mais visibilidade dentro da diversidade. Então é isso. Vamos para a resenha:)
Jonas é um garoto saindo da adolescência, que se vê perdido na vida por diversos motivos. O primeiro, ele não entrou para uma faculdade logo que saiu da escola, nem mesmo sabe se é isso o que ele quer para a vida. Segundo, sua família não é o seu porto seguro; o pai é conservador e instável emocionalmente; a mãe é religiosa, daquelas que vive pela igreja e pela sua família, sobretudo para "servir" ao marido. Em terceiro, vive um conflito com sua fé, sem saber ao certo o que "Deus" significa para si mesmo, tentando não se prender aos dogmas da igreja, em especial porque foi sob esta atmosfera de restrição em que ele cresceu. Assim, ele vive em um dilema entre fazer os pais felizes, o que significaria a sua infelicidade, e a própria felicidade de Jonas, que provavelmente significaria a infelicidade de sua família - e que também iria representar o "desapontamento de Deus". 
"Algumas pessoas na rua começam a tirar os guarda-chuvas de suas bolsas, mas ninguém abre ainda porque a chuva ainda não começou. É assim que eu me sinto por dentro. Eu sei que a tempestade vai começar a qualquer momento, mas ainda é cedo para me proteger. Não tem uma gosta sequer caindo, mas o céu não me engana. Eu sei que vai chover a qualquer instante. É só esperar."
Contrapondo-se ao cenário confuso em casa, Jonas tem seus amigos. Este é um ponto importantíssimo da história, pelo qual também fiquei encantada. Seria o bastante dizer que é uma história sobre amizade, se eu precisasse defini-la em uma palavra. Nós, leitores, somos espectadores de amigos que se tornam família e abraçam como a família deveria fazer. Abraçam, ajudam, amam e protegem. Amigos que amparam. E, até onde eu sei, isso é uma característica muito frequente para a comunidade LGBTQ+: a família que se escolhe diante de tantos casos em que a família biológica acaba rejeitando a pessoa somente por ela ser quem é.  
"– O que eu quero dizer é – Karina continua. – A felicidade não dura para sempre. Você precisa aproveitar enquanto ela está aqui."
 Jonas também nos conta sobre o seu primeiro relacionamento de verdade. Foi quando eu me vi em uma das únicas experiências literárias em que o clímax não se trata de um conflito entre o casal. O relacionamento deles é saudável, sem intrigas, por exemplo, devido a ciúmes ou problemas que muitas vezes não fazem sentido na minha cabeça. Jonas e Arthur são um casal real, com problemas e momentos reais, que se amam e só querem fazer dar certo. Preciso destacar os diálogos que sempre me deixavam querendo mais e me fazendo querer ser amiga deles também. É linda a forma como eles se abraçam e podem gritar que se amam porque, independentemente da conjuntura que vivemos no Brasil, da onda de conservadorismo e de homofobia, eles podem ser resistência juntos. Jonas irá lidar com o início do namoro, com encontros divertidos e repletos de expectativa (até mesmo da nossa parte), com a primeira vez que disse "eu te amo" amorosamente e outros tipos de "primeiras vezes"; são, certamente, um dos meus casais favoritos da ficção.
"Meu rosto fica vermelho, mas eu não sinto vergonha porque ele está sorrindo para mim. O que sinto é novo. É uma vontade esquisita de ficar aqui. Os lanches e a batata acabam, mas eu não quero ir embora. É como se todas as letras de músicas de amor fizessem sentido de repente."
 Duas coisas me fizeram abraçar ainda mais o livro: 1. Ele é ambientado em São Paulo, em torno da Avenida Paulista - e isso me deixa feliz, porque eu queria ler mais coisas com o Brasil de cenário e tudo fica ainda mais divertido quando se passa em lugares que você conhece e sente que aqueles personagens são ainda mais reais; 2. Jonas é aspirante a escritor e dificilmente ele consegue levar uma história adiante, mas quando Arthur surge na sua vida, ele consegue ir além com uma história sobre piratas gays, e nós podemos ler seus capítulos ao longo de Um milhão de finais felizes. Então, além de querer saber mais sobre os relacionamentos de Jonas, eu também queria saber como andava a história dos piratas. Foi um aspecto divertido.
Este livro me deixou surpresa e com o coração quentinho em momentos notáveis. Nada que fosse surreal, distante de uma história que pudesse realmente ter acontecido e recheado de coincidências e obras do destino. É uma história simples que nos encanta por tratar de coisas reais. Nos agradecimentos, Vitor diz que espera que a leitura tenha sido especial, principalmente se você se identifica com o personagem principal. Devo confessar que eu não me identifico com a problemática central, mas a história foi muito especial e certamente me fez acreditar que, na vida real, as coisas ficam bem, mesmo que pareça que tudo está perdido, porque nós podemos dar o final que queremos à nossa história.
"Eu te amo e tenho certeza de que, mesmo passando por tanta coisa ruim na vida, você ainda guarda um milhão de finais felizes aí dentro."
Pretendo ler o outro livro do Vitor, Quinze Dias, e digo com convicção que Um milhão de finais felizes não se tratou apenas da história em si, mas foi uma oportunidade, para mim, de saber que Vitor não é apenas um youtuber que fala sobre livros e escreve algumas histórias com uma temática que gosta. Ele realmente se preocupa com a mensagem que está passando e eu me senti envolvida por cada parte disso em sua obra.



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