Autor(a): Daniel Keyes 

Editora: Aleph

Nª de Páginas: 288

Narração: 1ª pessoa 

Sinopse:

Uma cirurgia revolucionária promete aumentar o QI do paciente. Charlie Gordon, um homem com deficiência intelectual severa, é selecionado para ser o primeiro humano a passar pelo procedimento. O experimento é um avanço científico sem precedentes, e a inteligência de Charlie aumenta tanto que ultrapassa a dos médicos que o planejaram. Entretanto, Charlie passa a ter novas percepções da realidade e começa a refletir sobre suas relações sociais e até o papel de sua existência.

Delicado, profundo e comovente, Flores para Algernon é um clássico da literatura norte-americana. A obra venceu o prêmio Nebula e inspirou o filme Os Dois Mundos de Charly, ganhador do Oscar de Melhor Ator, um musical na Broadway e homenagens e referências em diversas mídias.


Já me sentei diversas vezes na frente do computador, olhando para uma tela em branco ou mesmo com o lápis em mão e simplesmente não consegui escrever nada que me agradasse. Como poderia botar em palavras tudo o que foi a leitura de Flores para Algernon? Por onde começar? Como desenvolver? Como terminar? Não sei. 

Só que decidi tentar mais uma vez. 

Flores para Algernon de Daniel Keyes, publicado originalmente em 1959, é um livro sincero. A narrativa conta a história de Charlie Gordon, um homem de 32 anos, com deficiência intelectual e prestes a realizar uma cirurgia para aumentar seu QI. A história é narrada do ponto de vista de Charlie. Nos primeiros capítulos, a mente do protagonista é de uma criança, e essa criança em um corpo de adulto, apenas deseja ser inteligente para ter amigos. Escrevendo com erros, sem pontos, ou vírgulas, senti Charlie se infiltrar nas minhas veias. Escutei nele, a voz de tantos meninos e meninas que apenas querem ser abraçados e vistos como seres humanos. 

"Não mimporto muito em ser famoso. Só quero ser esperto como as outras peçoas para poder ter amigus que gostam de mim." Relatório de Progresso 6

O primeiro ponto de virada da narrativa é a cirurgia de Charlie. É devido a ela que a história de fato começa a se desenvolver. As mudanças não são automáticas e começamos a sentir os efeitos do procedimento com as alterações da escrita de Charlie. Os erros aos poucos vão sumindo e os pontos e virgulas começam a aparecer. Daniel Keyes foi muito inteligente em utilizar o texto como ferramenta narrativa, e assim, conseguiu tornar o livro mais rico ainda. 

Talvez o segundo ponto crucial no livro, seja o fato de Charlie acabar se tornando mais inteligente que os próprios médicos que realizaram sua cirurgia. Porém, ao mesmo tempo em que ele se torna mais inteligente, mais as pessoas se afastam dele. Ao enfrentar a realidade sem a névoa da mentalidade infantil, Charlie acaba confrontando um mundo diferente daquele que conhecia. Um mundo que machuca e não necessariamente é justo com todos. A busca pela compressão de tantas variáveis da humanidade, fazem Charlie questionar tudo. 

"Que estranho é o fato de pessoas de sensibilidade e sentimentos honestos, que não tirariam vantagem de um homem que nasceu braços ou pernas ou olhos, não verem problema em maltratar um homem com pouca inteligência." Relatório de Progresso 14

Apesar de ser um livro curto, tentei fazer a leitura em pequenas doses, como se fosse um remédio que se toma todo dia. E mesmo assim não fui imune a todos os sentimentos que me envolveram ao longo da narrativa. Acompanhar Charlie me tirou o fôlego. Na realidade, a história do homem que apenas queria ter amigos e ser feliz me pega até hoje e me fez escrever toda essa resenha chorando. 

Nas últimas páginas, com a visão já porrada, tive certeza que estava lendo um dos melhores livros da minha vida. No fim (como Letícia bem disse), só queria deixar flores para Algernon. 

              

             




 Autor(a): Brittainy C. Cherry 

Editora: Record 

Nº de páginas: 406

Narração: 1ª pessoa 

 Avaliação: 5 🌙💛

Sinopse: 

Eleanor & Grey é um livro sobre amizade, família, perdas e, acima de tudo, amor. Amor de todas as formas. 

"É impossível não amar as histórias criadas por Brittainy C. Cherry!" - Carina Rissi 

Eleanor é uma adolescente introvertida que prefere a companha de seus amados livros - e cardigãs com libélulas - a interagir socialmente, sobretudo com os colegas da escola. Quando a prima a arrasta para uma festa, Ellie se surpreende ao ser abordada pelo astro do time de basquete; afinal de contas os dois não tem absolutamente nada em comum. Ou pelo menos era o que ela pensava. Com o tempo, a amizade entre eles surge de forma natural; uma ligação tão forte, tão intensa, que logo se transforma em outro sentimento. Algo que Ellie nunca havia experimentado. 

Mas aquele sonho se transforma em pesadelo de uma hora para outra. Uma terrível notícia faz o mundo de Eleanor desabar. A única coisa ainda de pé é Greyson, incansavelmente ao seu lado. Mas nem sempre a força do amor é o bastante para deter o curso da vida: Ellie e Grey se veem forçados a se separar. 

Anos mais tarde, Eleanor pensa ter deixado seu primeiro amor no passado, mas o caminho dos dois volta a se cruzar. Só que, dessa vez, quem precisa de ajuda é Greyson. O problema é que ele já não é mais o garoto doce de suas lembranças. Grey se tornou um homem frio, insensível, e o elo especial que um dia partilharam parece ter se rompido para sempre. 

Eleanor & Grey é um delicioso romance de tirar o fôlego que agradará fãs de Jojo Moyer, John Green, Nicholas Sparks, Carina Rissi, Sophie Kinsela e Marian Keyes. É impossível não se apaixonar por essa história de amor e amizade escrita pela autora que já encantou incontáveis fãs com seus livros. 


Desde que li a última página de Eleanor & Grey e desliguei o Kindle, não consegui parar de pensar na história que havia acabado de ler. Também pensei muito sobre como escreveria essa resenha e faria jus ao livro de Brittainy. Fiquei pensando por dias e tentei desenhar as palavras na minha mente, até finalmente conseguir sentar e escrever. 

Isso porque a Brittainy escreveu esse livro com muita delicadeza. A história simplesmente flui, é fácil de ler, de se apegar e de se deixar envolver. De um primeiro encontro debaixo de uma escada, Eleanor com Harry Potter e a Ordem da Fênix nas mãos e Grey, curioso com aquela menina de cardigã de libélulas, até corpos e rostos adultos, Eleanor e Grey transbordam companheirismo. 

Ainda adolescentes, Eleanor e Grey se conheceram no pior momento da vida dela. Talvez não por acaso, pois foi nele que ela se segurou quando tudo se tornou difícil de suportar. A relação dos dois não era sobre desejo, ou uma paixão avassaladora, era sobre apoiar um ao outro e estar presente. 

"Sabe aqueles primeiros minutos depois que você termina um livro incrível? 

Aqueles instantes em que você não sabe exatamente o que fazer?

Você fica ali, olhando para últimas palavras, sem saber ao certo como seguir sua vida .

Como assim o livro acabou?" Capítulo 4

Só que com o tempo as dores de Eleanor foram se curando, mesmo que as cicatrizes fossem fortes, e ela acabou se perdendo de Grey. Como duas libélulas que se encontram em um jardim e o vento as separa.  

O mesmo vento que os separou, os uniu novamente 16 anos depois. Ambos não mas adolescentes, e sim adultos. Agora era Grey que passava pelo pior momento de sua vida. E Eleanor, despida de seu cardigã de libélulas, encontrou um homem diferente do menino de suas memórias. A vida aconteceu para Grey e ela não foi muito boa. 

"— Você nunca ficou num lugar lotado sentindo que ninguém sabe nada sobre você? — questionou ele. — As pessoas falam de você de um jeito falso. Tudo o que sabem sobre você são mentiras aleatórias que inventaram na própria cabeça, mas ninguém te conhece de verdade. As pessoas só conhecem o personagem fictício que criaram. Isso é que é solidão: viver em um mundo onde ninguém te vê de verdade." Capítulo 5

Agora Eleanor está ali com ele, presente. Sendo primeiro de tudo sua amiga e mostrando que ainda existe muita beleza na vida e que vale a pena sorrir. São por esses motivos e por toda a delicadeza da narrativa, que Eleanor & Grey conseguiu mexer tanto comigo. O amor que transborda nas páginas do livro é tão puro, tão cuidadoso e realmente belo, que não existe outro caminho a não ser se envolver inteiramente nele.  

Então, se alguém me perguntasse do que se trata Eleanor & Grey, responderia apenas com uma palavrinha: empatia. É sobre entrelaçar os dedos e enfrentar uma batalha que não é sua, mas que mesmo assim vale a pena. 

"A tristeza não se mostra com palavras; ela atravessa o corpo da pessoa. Flutua em seus olhos. Ela se reflete nas rugas da testa. Empurra os ombros para baixo e se acomoda meio sem jeito nos cantos dos lábios. Nenhum ser humano precisa falar de sua tristeza para que ela seja vista. É preciso apenas um tempo para se observar a pessoa e enxergar a tristeza nela." Capítulo 22


 

Para Sir Phillip, com amor

Autora: Julia Quinn
Editora: Arqueiro
Ano de publicação: 2003 (tradução: 2015)
Número de páginas: 276
Narração: 3ª pessoa
Título original: To Sir Phillip, with love
Sinopse: Eloise Bridgerton é uma jovem simpática e extrovertida, cuja forma preferida de comunicação sempre foram as cartas, nas quais sua personalidade se torna ainda mais cativante.
Quando uma prima distante morre, ela decide escrever para o viúvo e oferecer as condolências. Ao ser surpreendido por um gesto tão amável vindo de uma desconhecida, Sir Phillip resolve retribuir a atenção e responder.
Assim, os dois começam uma instigante troca de correspondências. Ele logo descobre que Eloise, além de uma solteirona que nunca encontrou o par perfeito, é uma confidente de rara inteligência. E ela fica sabendo que Sir Phillip é um cavalheiro honrado que quer encontrar uma esposa para ajudá-lo na criação de seus dois filhos órfãos.
Após alguns meses, uma das cartas traz uma proposta peculiar: o que Eloise acharia de passar uma temporada com Sir Phillip para os dois se conhecerem melhor e, caso se deem bem, pensarem em se casar? Ela aceita o convite, mas em pouco tempo eles se dão conta de que, ao vivo, não são bem como imaginaram. Ela é voluntariosa e não para de falar, e ele é temperamental e rude, com um comportamento bem diferente dos homens da alta sociedade londrina.
Apesar disso, nos raros momentos em que Eloise fecha a boca, Phillip só pensa em beijá-la. E cada vez que ele sorri, o resto do mundo desaparece e ela só quer se jogar em seus braços. Agora os dois precisam descobrir se, mesmo com todas as suas imperfeições, foram feitos um para o outro.
"Os sonhos dela não passavam disso: sonhos. Ilusões, coisas que criara. Se ele não era quem esperara, a culpa era só dela. Vinha ansiando por algo que nem mesmo existia." (p. 50)
Dando continuidade à jornada que estou correndo com a família Bridgerton, cheguei ao livro 6 com certas expectativas. Eloise é uma das minhas Bridgertons favoritas, entre homens e mulheres. Ainda que ela seja muito intrometida e até um pouco irritante, ela sempre me pareceu muito espirituosa e eu sempre gostei da forma como ela se colocava diante de determinados rótulos e expectativas que queriam direcionar a ela. 
Esse livro é localizado na linha do tempo muito próximo ao anterior, o romance de Colin e Penélope. No caso deste, é muito intenso como tudo acontece tão rápido. Embora Eloise e Phillip tenham trocado cartas por praticamente um ano, é em questão de dias que ela chega à casa dele fugida de toda a família e, tão rápido quanto eles descobrem que não são como imaginavam de acordo com as cartas, os irmãos de Eloise, enlouquecidos, encontram a irmã na casa de Phillip e, também em questão de dias, todos os trâmites para o casamento acontecem.
"Mas, à medida que ele a observava à sua frente e via o rosto dela se transformar com um simples sorriso, percebia que sua razão para ter partido não importava. Só tinha de conseguir fazê-la ficar." (p. 65)
Não vou me deter a falar sobre expectativas, visto que estou decidida a ler toda a série e, sendo assim, tenho boas expectativas para todos os livros. De um modo geral, senti que esse livro foi bastante "confortável", em um sentido até bom da palavra. Os acontecimentos não são tão movimentados como no livro anterior, mas esse traz algumas reflexões, sobretudo voltadas para a decisão de Eloise sobre se casar.
"- Mas foi o que aconteceu - disse ele, fazendo a gentileza de concluir o pesamento dela. - Acho que nem Penelope pensou que se casaria. E, para ser sincero, duvido que Colin também tivesse previsto isso. O amor às vezes chega sem ser notado, sabe?" (p. 150)
As motivações de Phillip para o casamento eram bastante claras. Mesmo que depois tenha surgido o amor dele por Eloise, em primeiro lugar, o seu objetivo era dar uma mãe aos seus filhos gêmeos, que, por sinal, são muito indisciplinados. As motivações de Eloise, no entanto, embora não sejam claras para todo mundo, são escancaradas para ela mesma: depois do casamento de Colin, seu irmão mais velho, e Penelope, sua melhor amiga, Eloise foi inundada por um sentimento de solidão nunca sentido antes. Ela acreditava, e afirma isso diversas vezes para si mesma, que poderia acabar como uma solteirona para o resto da vida depois de uma série de pedidos de casamento recusados, tanto porque não havia encontrado amor verdadeiro naqueles pretendentes, quanto porque achava que ela e Penelope poderiam fazer companhia uma para a outra na solteirice. 
Confesso que essa decisão de Eloise, por esses motivos, me incomoda um pouco. Eu sempre a considerei forte, independente e autoconfiante... Vê-la fazendo escolhas por medo de ser reduzida a uma solteirona me fez vê-la de outra forma e eu ainda não sei se foi totalmente positivo. 
"Violet nunca precisara de nada, e sua verdadeira riqueza residia em sua sabedoria e seu amor, e Eloise percebia agora, enquanto via a mãe virar de novo em direção à porta, que ela era mais do que só sua progenitora... ela era tudo o que Eloise desejava ser." (p. 203)
De fato, é interessante ver a construção da relação dela com as crianças (e, posteriormente, com o próprio Phillip). Gosto de como ela reflete muito sobre o "ser mãe" dessas crianças que ela adotou, essas que adotaram Eloise também, de certo modo. Como eu disse, é um livro mais confortável, mais calmo, embora seja muito reflexivo. Apesar desses incômodos que eu tive, adorei ficar um pouco mais próxima dos pensamentos de Eloise. Ah, e o epílogo desse livro é muito, muito lindo, com direito a quentinho no coração e tudo.

P.S. para quem já leu: Como é que a Julia Quinn não me escreve a reação da Eloise sobre aquela coisa que foi revelada no livro passado? Fiquei o livro inteiro esperando por isso. E essa falta eu não vou perdoar.



 


Autor(a): Holly Black

Editora: Galera Record 

Nº de páginas: 294

Narração: 1º pessoa

Sinopse: 

A rainha do nada é o aguardado final da trilogia O Povo do Ar, best-seller #1 do New York Times. Ele será a destruição e da coroa e a ruína do trono. O poder é mais fácil de adquirir do que de manter. Jude aprendeu a lição mais difícil de sua vida quando abdicou do controle do Rei Cardan em troca de um poder imensurável. Agora, ela carrega o outrora impensável título de Grande Rainha de Elfame, mas as condições são longe ser ideias. Exilada por Cardan no mundo mortal, Jude se encontra impotente e frustrada enquanto planeja reivindicar tudo o que Cardan tomou dela. A oportunidade surge com sua irmã gêmea, cuja vida está em perigo. Para salvá-la de uma situação tenebrosa envolvendo Locke, Jude decide voltar ao Reino das Fadas se passando por Taryn. Antes disso, porém, ela precisa confrontar os próprios sentimentos contraditórios pelo rei que a traiu. No entanto, ao voltar de Elfhame, Jude constata que tudo mudou. A guerra está prestes a eclodir, e ela caminha próximo a seus inimigos. Será que ela vai ser capaz de resgatar a Coroa e o amor incondicional de Cardan, ao mesmo tempo que destrói os planos de seus inimigos? Ou será que tudo está perdido para sempre? A rainha do nada é o épico desfecho da trilogia O Povo do Ar, da renomada autora Holly Black. Com intrigas palacianas, reviravoltas inesquecíveis e uma construção de um universo ao mesmo tempo complexa e crível, Holly Black se consagra mais uma vez como a rainha do Reino das Fadas e um dos nomes mais icônicos da fantasia para jovens adultos.


Finalizar um livro é complicado. Colocar o ponto final em uma história que vem sendo construída há um tempo é difícil. Você precisa olhar lá para o começo, pro meio, pelas entrelinhas e ver o que ainda precisa (ou não) ser concluído. Agora quando falamos de uma série, saga ou trilogia, esse trabalho consegue ser muito pior. Afinal, existiu toda uma construção para a chegada daquele ponto final. Precisa haver consequências e conclusões, e as expectativas tendem a ser bem altas. 

"Um pânico repentino toma conta de mim. Preciso me afastar dele. Tento pular do galho, mas não caio no chão. Só caio e caio e caio pelo ar, como Alice no buraco do coelho." Página 55

Sendo assim, reafirmo a inteligência de Holly Black. Ela entende seus personagens e com isso compreende o que precisa ser feito. Em "O Príncipe Cruel" conhecemos Jude, uma humana vivendo no mundo das fadas e sofrendo as consequências de viver em um mundo tão cruel. Pudemos ver toda a sua transformação na busca do poder e até onde ela chegaria. Ao mesmo tempo olhávamos com desconfiança para Cardan e descobrimos que ele não era bem o que parecia. Em "O Rei Perverso" o poder tão difícil de ser conquistado escorrega de suas mãos e Cardan mostra que o trono é seu, ao passo que seus sentimentos se confundem e as raízes do amor começam a afundar em seus corpos. 


Então, o que teríamos em "A Rainha do Nada"? Diria que um recomeço. É daqueles momentos que a chave irá mudar em um click rápido e as decisões precisarão ser tomadas. Exilada no mundo mortal, a humana criada em volta das cruéis fadas não se sente em casa. Criada em meio a brutalidade, ela será brutal e sangue derramará. Só que o coração de Jude pulsa pelo Reino das Fadas e na primeira oportunidade, ela retornará. 

Como será encarar Cardan? Jude não é mais a menina em busca de poder e vingança, ou mesmo aquela que tenta manter para si. Ela é a rainha. E a rainha está atrelada ao rei, de uma forma tão forte que ela não consegue entender. Logo ela entenderá que Cardan já não é o mesmo e que ela se tornou algo muito maior, de um jeito que nunca imaginou. Ele não será o problema. O inimigo será o mesmo que causou toda a sua mudança ainda quando era apenas uma menina que havia acabado de ver os pais sendo mortos. Origens violentas simplesmente não se perderam e finalmente Jude perceberá que não está mais sozinha. 

"Se você enfiar uma espada aquecida em óleo, qualquer pequena falha vira uma rachadura. Mas, banhadas em sangue como vocês foram, nenhuma se partiu. Vocês só ficaram mais duras." Página 143

Mas se lembram que falei de um recomeço, não é? Ele de fato virá, junto com uma coroa quebrada, uma serpente rastejante e decisões que deverão ser feitas. Não se trata de quanto sangue será derramado, se trata de entender a crueldade e a maneira peculiar que as fadas se movem e respeitam a terra que é mais forte que tudo. 

É certo que queria só mais algumas páginas de Jude e Cardan para aproveitar e suspirar a química absurda que ambos possuem, mas dona Holly Black não facilitou meu coração de romântica e shipper. O que no fim posso dizer é que O Povo do Ar se tornou uma das minhas séries preferidas e me entregou personagens apaixonantes com suas próprias distorções e crueldades e um universo que conseguiu transbordar magia pelas páginas amareladas. 

                





 

"Não é ótimo quando descobrimos que não somos exatamente o que pensávamos ser?" (pág. 55)

Os Segredos de Colin Bridgerton

Autora: Julia Quinn
Editora: Arqueiro
Ano de publicação: 2002 (tradução: 2014)
Número de páginas: 328
Narração: 3ª pessoa
Título original: Romancing Mister Bridgerton
Sinopse: Há muitos anos, Penelope Featherington frequenta a casa dos Bridgertons. E há muitos anos alimenta uma paixão secreta por Colin, irmão de sua melhor amiga e um dos solteiros mais encantadores e arredios de Londres.
Quando ele retorna de uma de suas longas viagens ao exterior, Penelope descobre seu maior segredo por acaso e chega à conclusão de que tudo o que pensava sobre seu objeto de desejo talvez não seja verdade. 
Ele, por sua vez, também tem uma surpresa: Penelope se transformou, de uma jovem sem graça ignorada por toda a alta sociedade, numa mulher dona de um senso de humor afiado e de uma beleza incomum. 
Ao deparar com tamanha mudança, Colin, que sempre a enxergara apenas como uma divertida companhia ocasional, começa a querer passar cada vez mais tempo a seu lado. Quando os dois trocam o primeiro beijo, ele não entende como nunca pôde ver o que sempre esteve bem à sua frente. 
No entanto, quando fica sabendo que ela guarda um segredo ainda maior que o seu, precisa decidir se Penelope é sua maior ameaça ou a promessa de um final feliz.
Em Os Segredos de Colin Bridgerton, quarto livro da série Os Bridgertons, que já vendeu mais de 3,5 milhões de exemplares, Julia Quinn constrói uma linda história que prova que de uma longa amizade pode nascer o amor mais profundo.

Acho que já deixei bastante claro na resenha anterior o quanto eu sou grata ao livro 3 da série Os Bridgertons por me permitir chegar a este. Todas as expectativas que eu trouxe até aqui foram atendidas e supridas pelo meu mais novo casal favorito: o bem humorado Colin Bridgerton e a brilhante Penelope Featherington.
Eu não sei nem por onde começar a falar sobre um livro que me deixou tão apaixonadinha durante a leitura. Então, vamos por partes.
As grandes estrelas desse romance são, como deveria ser, o casal que protagoniza. Comecemos por ele: Colin é, até agora, o meu Bridgerton homem favorito. Veremos se Gregory poderá superar isso, mas o irmão número 3 é muito querido por mim. Eu adoro seu humor e adoro sua sagacidade, tudo nele atendeu a tudo o que eu esperava.
"Jamais lhe ocorrera que escrever fosse algo prazeroso para ele. Era algo que simplesmente fazia. Fazia-o porque não conseguia se imaginar sem aquilo. Como viajar para terras estrangeiras e não manter um registro do que via, do que vivenciava e, talvez o mais importante, do que sentia?" (página 89)
No entanto, eu vou arranjar uma briga com alguém que disser que esse livro não é sobre a Penelope. Para mim, ela é a estrela mais luminosa desse livro. É tudo sobre ela, tudo. Se tornou a minha "mocinha" favorita. Forte, inteligente, perspicaz... Muito autêntica, mesmo que quase ninguém enxergasse isso nela. 
Os diálogos deles dois eram tudo o que eu ficava esperando no livro. São envolventes, inteligentes, exprimem o melhor dos dois. Eu amo que até os segredos deles se conversam e fazem com que eles se encaixem tão bem, assim como o conceito que cada um tinha sobre "realização de vida". Em determinado momento, a sensação que eu tinha era de que o ideal de vida de sucesso para Penelope era o que Colin tinha e, para ele, o contrário. Isso adiciona uma camada de profundidade na história deles que vai além da quebra de expectativas da sociedade em ver uma Featherington (e justo aquela) casada com um Bridgerton (e justo aquele). 
"- Eu te amo mais do que tudo. - Ele se inclinou para frente e a beijou suavemente nos lábios. - Pelos filhos que teremos, pelos anos que passaremos juntos. Por cada um dos meus sorrisos e mais ainda pelos teus." (página 299)
A cereja do bolo, para mim, foi a relação de Penelope com Lady Danbury, essa que só criei mais afeição desde que assisti à série. 
Sou muito suspeita para fazer essa resenha. Enquanto na anterior eu praticamente só fui críticas negativas, aqui eu sou apenas elogios. Fugindo dos spoilers, devo dizer bem por cima também que amei o desfecho. Estou apaixonada pelos dois. Leria muito mais. 
Foi ótimo para finalizar essa primeira metade da série, satisfeita com a forma como Julia Quinn traça os caminhos de seus personagens tão independes e, ao mesmo tempo, tão bem costurados. É normal já estar sofrendo com o fim daqui a alguns livros?

Os Sete Maridos de Evelyn Hugo

Autora: Taylor Jenkins Reid
Editora: Paralela
Ano de publicação: 2017 (tradução: 2019)
Nº de páginas: 360
Narração: 1ª pessoa
Título original: The Seven Husbands of Evelyn Hugo
Sinopse: Lendária estrela de Hollywood, Evelyn Hugo sempre esteve sob os holofotes – seja estrelando uma produção vencedora do Oscar, protagonizando algum escândalo ou aparecendo com um novo marido... pela sétima vez. Agora, prestes a completar oitenta anos e reclusa em seu apartamento no Upper East Side, a famigerada atriz decide contar a própria história – ou sua "verdadeira história" –, mas com uma condição: que Monique Grant, jornalista iniciante e até então desconhecida, seja a entrevistadora. Ao embarcar nessa misteriosa empreitada, a jovem repórter começa a se dar conta de que nada é por acaso – e que suas trajetórias podem estar profunda e irreversivelmente conectadas.

"Porque eles são só maridos. A Evelyn Hugo sou eu."
É isso o que acontece quando começamos um livro com muitas expectativas e ele vai nos surpreendendo a cada novo capítulo? É normal sentir que alguma coisa que ele trouxe nos mudou? Foi essa a impressão deixada em mim por esse livro. 
De cara, confesso que não simpatizei muito com ele. Começa com a voz de Monique Grant, uma jornalista que aparenta ter uma vida nada extraordinária. Está tentando subir na carreira e rapidamente é possível perceber como isso é algo importante para ela – pelo que entendemos logo nos primeiros capítulos, ela acabou de se divorciar numa daquelas bifurcações "escolher o marido" x "escolher a carreira". Embora seja convicta pelo caminho da sua carreira, ela ainda sofre um pouco pelo término, ocorrido há poucas semanas. 
"Precisa encontrar um trabalho que faça seu coração bater mais forte, e não um que deixe seu peito apertado."
É logo no começo que Monique é procurada pela assessoria de Evelyn Hugo para realizar uma suposta entrevista. Após anos reclusa, Evelyn há muito tempo não faz tantas aparições públicas e as entrevistas, então, foram extintas. Mas agora, com quase 80 anos, tendo uma das vidas mais conturbadas, polêmicas e – por que não? – bem vividas de Hollywood, ela está organizando um leilão de seus lendários vestidos e todas as revistas estão atiçadas para conseguir o máximo de informação sobre isso.
Quando Monique e Evelyn se conhecem, fica evidente que existe algo por trás do motivo para Evelyn chamá-la, especificando que se não fosse a jornalista em questão, não seria mais ninguém. Mas o motivo não é revelado a princípio e, cá entre nós, não é a busca por ele que faz com que o leitor fique preso a esse livro. O grande e inabalável motivo tem nome, sobrenome, carisma e talento invejáveis: Evelyn Hugo.
A proposta de Evelyn, então, é que Monique escreva uma biografia autorizada da atriz, que só poderá ser publicada após a sua morte. À medida em que Evelyn conta a sua história, falando sobre toda a sua carreira e tudo o que nunca foi contado sobre seus sete maridos, rapidamente descobrimos que a história dela vai muito além disso. 
"O que fica na minha cabeça no fim de semana – da sexta à noite ao domingo de manhã no parque – não é "como meu casamento foi por água abaixo?", e sim "quem diabos foi o grande amor da vida de Evelyn Hugo?""
Quantas mulheres não foram reduzidas a seus relacionamentos amorosos? Quantas mulheres não foram rotuladas de acordo com seus corpos, deixando de lado quem elas realmente eram/são? Evelyn nos faz pensar sobre como a nossa sociedade ainda tem muito o que aprender, mesmo que a história que ela está contando, em grande parte, tenha se passado no século passado. 
Evelyn é uma das personagens mais difíceis de descrever, tal como seu livro. A única coisa que posso afirmar com certeza é que fui muito cativada por ela, assim como Monique se sentiu durante todo o período em que estiveram juntas. Devido aos sentimentos conflitantes, nesse livro todo tipo de sentimento pelas personagens é permitido, sobretudo perceber seus erros. Durante a leitura, nós somos chamados a ponderar suas escolhas e atitudes porque, afinal, é uma história que evoca muito a nossa capacidade de ser empático. Você não precisa achar se é certo ou errado, só precisa entender que houveram motivações e, sobretudo, não há arrependimento em Evelyn por ter sido quem foi e por ter feito o que fez.
"Desconfie de homens que precisam muito provar alguma coisa."
Eu vou indicar esse livro para todo mundo, porque é incrível. O símbolo feminino representado por Evelyn e toda a discussão que o livro pode trazer sobre sexualidade tornam essa história tão necessária! E se você for se aventurar por ela, fique ciente de que são pouquíssimos os homens que prestam nessa história – eu avisei que é bem próxima da realidade... E que ela não é mesmo sobre eles. Além disso, aborda temas tão relevantes que, mais do que nunca, resgatam essa história fictícia para a nossa atual realidade.



Foto: Acervo pessoal | Frase do rapper Emicida reproduzida no documentário "AmarElo" (Netflix).

Hoje, há quase um ano vivendo de perto esse caos que meses antes chegou por aqui na Terra, tive um daqueles baixos dentre tantos altos que persisto em viver apesar de tudo. Aqueles baixos em que o meu quarto, que geralmente é confortável e me abriga bem, começou a parecer pequeno - o teto mais baixo, as paredes mais estreitas, um calor inexplicável e a necessidade de sair daqui.

Não, não sair para qualquer lugar. Não obstante tanto tempo, ainda me reservo no direito de ser um pouco exigente. Eu queria ver gente. Queria ver gente andando, falando, rindo alto de uma maneira que não fosse por meio de uma tela. Queria não ser interrompida por uma conexão ruim. Queria não ter que encarar a frieza das mensagens por WhatsApp.

Sei que não é à toa que o momento roubou o nosso riso e tirou o brilho dos nossos olhos. São pessoas partindo todos os dias. Milhares delas. Todos os dias. E estamos, mais do que nunca, nas mãos de um maluco genocida. É demais querer que alguém esteja sorrindo nesse momento. 

Mas a saudade é inevitável. Uma saudade que não vem com data de validade, porque sequer imaginamos quando sairemos disso. Assim, vamos vivendo dia após dia, esperando o momento em que poderemos passar pela porta e reviver a liberdade. E me dirijo até mesmo àqueles que estão preferindo se expor e se colocar em risco, porque, cá entre nós, isso não é a verdadeira liberdade. Mesmo que em graus diferentes, essa onda caótica atinge a todos nós e me dói saber que alguns não se importam com isso. Desses, também sentirei certa saudade.

Digo isso porque, sim, essas pessoas já não podem estar mais aqui (nesse lugar que criei para proteger os meus). Sendo bem sincera, não sei até que ponto essa situação toda vai nos ensinar em termos de humanidade. Admiro quem consiga ser tão esperançoso assim. Mas é fato que me ensinou muito sobre quem eu quero comigo e sobre quem se mostrou egoísta, mesquinho e ignorante. Vou sentir saudade da ideia que eu tinha antes sobre essas pessoas.

A saudade de agora, como eu ia dizendo, não se direciona completamente a indivíduos específicos. Ela me fala sobre aquele tempo em que eu ia para a faculdade em um ônibus lotado, sozinha com o céu cheio de nuvens que é a minha cabeça com tanto pensamento atropelado. Saudade de tomar café com meus amigos na barraquinha que fica na esquina da faculdade. Saudade de encontrar minhas amigas da escola e recontar as mesmas histórias que lembramos sempre que estamos juntas - e rimos da mesma maneira. Saudade de fazer planos com data de realização, sabe? Coisas concretas. É isso. Tudo hoje parece que está flutuando na nossa frente. Uma onda de incertezas com a qual não sei lidar e me inunda todos os dias.

Tem uma frase dita pelo Emicida que me toca sempre que essa saudade me invade, sempre que penso como antes o abraço era fácil, sempre que me dói pensar em todas as vidas perdidas. "É no encontro que a nossa existência faz sentido". Como, então, encontrar sentido nesses tempos de tantos desencontros? 

Se o abraço falta, se o toque não é permitido, se existem tantas barreiras nos impedindo de viver - e tantas coisas nos ameaçando de perder a vida... Eu só espero que possamos continuar cuidando dos nossos, mesmo que aos trancos e barrancos. Lamentando a perda de muitos, torcendo para que não hajam tantas a mais. Estou morrendo de medo, sabe? Mas tentando lembrar da frase do Emicida para que, quando puder encontrar todo mundo, as coisas voltem a fazer sentido.



Autor(a): Lyssa Ray Adams 

Editora: Arqueiro 

Nº de páginas: 320

Narração: 3º pessoa

Sinopse:

A primeira regra do clube do livro é: não fale sobre o clube do livro. 


Gavin Scott é um astro de beisebol, devotado ao esporte. No auge de sua carreira, ele descobre um segredo humilhante: a esposa, Thea, sempre fingiu ter prazer na cama. Magoado, Gavin para de falar com e ela e acaba piorando o relacionamento, que já vinha se deteriorando. Quando Thea pede o divórcio, ele percebe que o orgulho e o medo podem fazê-lo perder tudo. 


Bem-vindos ao Clube do Livro dos Homens 


Desesperado, Gavin encontra ajuda onde menos espera: um clube secreto de romances, composto por alguns dos seus colegas de time. Para salvar seu casamento, eles recorrem à leitura de uma sensual trama de época, Cortejando a condessa. Só que vais ser preciso muito mais do que palavras floreadas e gestos grandiosos para que Gavin recupere a confiança da esposa.


Eu poderia fazer essa resenha de diversas formas: falar sobre a narrativa equilibrada do livro, da importância que a história dar aos romances, ou mesmo sobre casamentos. Mas decidi ir pelo caminho em que tenho que me abrir com vocês. 

Nas primeiras páginas do "Clube do Livro dos Homens" conhecemos Gavin Scott, não como o famoso jogador de beisebol, mas como um bêbado chorando as mágoas de um casamento fracassado. Sua esposa, Thea, pediu o divórcio após informar ao marido que não sentia mais prazer com ele. Na tentativa de entender o que precisava para salvar seu casamento, Gavin entra em um clube secreto de romances, formado por colegas de time e alguns conhecidos da cidade. Para surpresa de Gavin, ele enxerga o reflexo de sua própria história nas páginas de uma trama de época e descobre que tem muito a aprender sobre o casamento e si mesmo. 

"— Palavras não importam, Gavin — explicou Mack, estranhamento sóbrio. — São as ações que contam. E, se ela aprendeu a desconfiar do amor na infância, não importa quantas vezes você se declare. Você a fez duvidar do amor quando foi embora." Capítulo 8

É exatamente esse reflexo que Gavin enxerga que me fez enxergar o meu próprio. Isso porque a narrativa de Lyssa Kay Adams é divertida, bem construída, inteligente e com críticas diretas a visão que os homens e a sociedade têm dos romances, mas sim porque ela não enxerga seus personagens como uma simples página. Eles são um livro todo. Existe Thea antes de Gavin e Gavin antes de Thea, e todas as feridas que foram abertas no passado e mal suturadas decidiram romper todos os pontos agora. E assim como Gavin, eu tenho problemas na fala. Falo rápido demais, me atropelo, às vezes gaguejo e sei como é doloroso o olhar do outro quando é algo que você não faz porque quer. 

"Ele estava fingindo. Estava fingindo havia meses antes daquela noite. Fingindo que tudo estava bem entre os dois quando claramente não estava, porque era mais fácil fingir do que enfrentar a verdade: estavam se afastando, ele a estava perdendo." Capítulo 20

Um dos pontos centrais da narrativa é a família. Thea e Gavin se casaram às presas quando ela engravidou de gêmeas. Ele, vindo de uma família aparentemente perfeita, não se sente confortável em assumir que o casamento não está indo tão bem. Ela, por sua vez, vinda de uma família partida, sente que está repetindo as falhas dos pais e se perdendo. Dessa forma, mesmo com as tentativas de Gavin de reatar o casamento, Thea não consegue se entregar. Os machucados de seu passados continuam doendo, sangrando e ela acredita que Gavin será mais um a abandoná-la. 

Talvez quem não tenha uma história frustrada com o pai, ou mesmo com alguém muito importante que tenha te machucado muito, Thea pode parecer "complicadinha" demais, mas não é. Eu a entendo. A sensação de abandono fica para sempre na gente, principalmente quando vem de alguém que deveria ser o nosso porto seguro. Lembro como se fosse hoje, mesmo que na época tivesse 5 anos, do meu pai indo embora. Lembro de ir me perdendo dele ao longo dos anos, da gente olhando um para o outro, sabendo que ali existe amor, mas não reconhecimento. E essas dores, assim como outras, me fizeram ser uma pessoa fechada para relacionamentos com homens, para confiar neles em geral. 

E assim como Thea, eu fingia. Fingir que tá tudo bem é mais fácil, só que uma hora a gente cansa e vê que existe uma bagunça enorme para ser consertada. Por esses motivos, o "Clube do Livro dos Homens" foi tão importante pra mim. Ele abriu meus olhos para o que eu não queria ver e mostrou porque era importante que eu passasse a enxergar. 

O "Clube do Livros Homens" fala sobre casamento, amor, amizade, romance, mas, sobretudo, da importância de curarmos as dores antigas para que possamos desfrutar do presente e construir um futuro sem mágoas.


         




 

Autor(a): Holly Black

Editora: Galera Record

Narração: 1ª pessoa

Nº de páginas: 307

Sinopse:

A intrigante e sangrenta continuação do best-seller do New York Times, O príncipe cruel. Vencedor do Goodread Choice Awards 2019. Para sobreviver do Reino das Fadas, Jude Duarte precisou aprender muitas lições. A mais importante delas veio de seu padrasto: o poder é bem mais fácil de adquirir do que de manter. Ela achou que, depois de enganar Cardan para que ele jurasse obedecê-la por um ano e um dia, sua vida se tornaria mais fácil. Mas ter qualquer influência sobre O Grande Rei de Elfhame parece uma tarefa impossível, principalmente quando ele faz de tudo em seu poder para humilhá-la e prejudicá-la, mesmo que seu fascínio pela garota humana permaneça intacto. Agora, com as ondas ameaçando engolir a terra e um alerta de traição iminente, Jude precisa lutar para salvar a própria vida e a daqueles que ama, além de lutar contra seus sentimentos conflituosos por Cardan no meio-tempo. Em um mundo imortal, um ano e um dia não são nada...


Ao deslizar os olhos pelas primeiras palavras de Holly Black em "O Rei Perverso", já somos preparados para o que vai acontecer na jornada de Jude Duarte no Reino das Fadas. Se em "O Príncipe Cruel", vemos a jovem mortal se transformar em uma nova versão de si mesma na busca pelo poder, em "O Rei Perverso", permanecer com o poder é a grande questão.  Nas palavras de Mardoc: O poder é bem mais fácil de adquirir do que de manter (página 13). 

Além de ser um livro de fantasia, "O Rei Perverso" é uma narrativa política. Movimentos são feitos, desfeitos e ninguém é confiável. Parece que a todo momento algo irá acontecer, alguém mudará de lado ou mesmo se revelará em outro alguém. No passo que Jude parecia uma personagem inconstante em "O Príncipe Cruel", sempre surpreendendo o leitor e a si mesma, nesse é ela que olha com desconfiança para todos os lados, medindo milimetricamente o que irá fazer. Se antes ela havia transformado o medo em ódio e com isso conquistando o poder, agora ela segura com tanta força que ele simplesmente desliza por seus dedos.

Antes ela era apenas uma mortal, brincar com ela e a machucar alimentava os desejos cruéis dos feéricos, mas em sua posição atual, Jude pôs um grande alvo em suas costas e fazer parte do jogo de guerra do Reino da Fadas pode não ser tão divertido. 


"A dor fortalece, disse Madoc uma vez, me fazendo erguer uma espada repetidas vezes. Acostume-se com seu peso." Página 171

 

É incrível como Holly nos apresenta um mundo completamente mágico, muito parecido com nossas fantasias infantis, em que todas as possibilidades são possíveis e até as árvores têm vida, mas resolve mostrar o outro lado da moeda. No Reino das Fadas os humanos podem sim ser "felizes", embebidos em uma névoa bonita e enxergar a mais pura beleza, mas nesse meio tempo estão sendo manipulados, sugados e cada dia mais se transformando em cinzas, até que não existam mais. 

Por isso é tão interessante ver uma mortal entrando como peão no jogo de xadrez do Reino das Fadas, querendo se transformar em cavalo, para fazer parte da tropa, e de uma hora para outra se vê como o bispo, a conselheira da realeza, preparada para fazer todas as jogadas e defender o seu rei. Qual seria seu próximo passo?

Só que as coisas se tornam turbulentas e Jude de repente se vê afundando, sem ar, sem forças, se afogando completamente. Assim, deixando o poder deslizar de suas mãos, por mais que as aperte com força o suficiente para tirar o próprio sangue. Então o bispo sai da jogada. As outras peças estão jogando. E o rei, antes o príncipe displicente, se ver desprotegido e tendo que virar a peça mais importante do jogo. Cardan, que antes deixava a coroa pender em sua testa, rindo quase bêbado, a organiza em sua cabeça e se levanta. É a sua hora de jogar.


"— Me beija de novo — pede ele, bêbado e tolo. — Me beija até eu ficar cansado do seu beijo." Página 64

 

É muito claro que mesmo que os títulos dos dois primeiros livros se tratem de Cardan, a protagonista da história é Jude. Ela é a dona da narrativa. A história de Cardan é desenvolvida durante as brechas, como se estivesse rodeando, se preparando, prestes a ser contada. Mas agora suponho que ele terá uma voz tão forte quanto de Jude e que certamente ele irá nos surpreender. Aliás, o que falar da relações deles? É palpável o desejo de ambos um pelo outro e de como a luxúria pode vir agarrada ao ódio. 

Para finalizar, havia dito que o bispo havia saído da jogada, não é? Só que a rainha é a peça mais poderosa de todo o tabuleiro. Ela é capaz de fazer tudo.


             

                                                                                        


 Autor(a): Beth O'Leary 

Editora: Intrínseca

Narração: 1ª pessoa

Nº de páginas: 400

Sinopse:

Eles dividem um apartamento com uma cama só. Ele dorme de dia, ela, à noite. Os dois nunca se encontraram, mas estão prestes a descobrir que, para se sentir em casa, às vezes é preciso jogar as regras pela janela.

Três meses após o término do seu relacionamento, Tiffy finalmente sai do apartamento do ex-namorado. Agora ela precisa para ontem de um lugar barato para morar. Contrariando os amigos, ela topa um acordo bastante inusitado. 

Leon está enrolado em questões financeiras e tem uma ideia pouco convencional para arranjar dinheiro rápido: sublocar seu apartamento, onde fica apenas no período da manhã e da tarde nos dias úteis; já que passa os finais de semanas com a namorada e trabalha como enfermeiro no turno da noite. Só que tem um detalhe importante: o lugar tem apenas uma cama. 

Sem nunca terem se encontrado pessoalmente, Leon e Tiffy fecham um contrato de seis meses e passam a resolver as trivialidades do dia a dis por Post-its espalhados pela casa. Mas será que essa solução aparentemente perfeita resiste a um ex-namorado obsessivo, uma namorada ciumenta, um irmão encrencado, dois empregos exigentes e alguns amigos superprotetores?



Não sei se vocês entendem de crochê, mas do pouco que entendo sei que para se começar uma peça é necessário dar a laçada inicial e fazer a conhecida correntinha. Essa é a base do crochê. O problema é que a correntinha é fácil de fazer mas se não for dado um nó bem feito no final, logo se torna apenas um fio. Por que estou dizendo isso? Bem, Tiffy está tentando construir essa bendita corrente. 


Ela dar o seu primeiro ponto quando decide sair da casa que divide com o ex-namorado, Justin. Não é um movimento fácil, pelo contrário, mas é necessário. É daqui que as coisas vão começar a mudar para ela. Com pouco dinheiro e tendo que pagar para Justin o dinheiro do aluguel dos meses que passou em sua casa, a decisão mais viável é dividir uma cama com um desconhecido. Não bem dividir. O plano é que eles realmente nem se vejam, estando cada um em turnos diferentes na casa. A comunicação de ambos se resumem a bilhetinhos em Post-its, o que poderia ser silencioso e monótono, mas se torna barulhenta e instigante. 


Deixando um pouco a Tiffy e sua correntinha, quero falar sobre Leon. Leon é em enfermeiro de cuidados paliativos e passa a noite e a madrugada em uma casa de repouso trabalhando e precisa muito de dinheiro, por isso a ideia de botar sua cama para "alugar". Só que assim como Tiffy, Leon está passando por um momento complicado, daqueles que decisões bruscas são necessárias. Isso porque seu irmão está preso injustamente. 


Então aqui temos duas pessoas tentando seguir em frente de alguma forma, elas estão lutando para isso. Esse é o primeiro ponto que os amarra. Mas eles são diferentes entre si, é importante frisar. Tiffy é mega colorida, ama um bazar e é super tagarela, já Leon não se importa muito com as cores e nem é de falar muito, é bem mais na dele e tudo bem. Essa inclusive é uma marca que vemos nos bilhetes trocados entre eles. 


"Oi, Leon 


    Não sei. Na verdade, nunca pensei nisso por esse ângulo. Minha reação inicial é: "Sim, ele é bom para mim." Mas não sei. A gente brigava muito, um daqueles casais sobre quem todo mundo gosta de fofocar (a gente já se separou e voltou algumas vezes). É fácil lembrar os momentos felizes - e a gente teve uma porção e foram incríveis -, mas acho que, desde que a gente se separou, só consigo me lembrar disso. Então sei que estar com ele era divertido. Mas será que era bom pra mim? Arg. Não sei.


    Por isso o pão de ló com geleia caseira.


    Bjos, 


    Tify." Página 70


Mas voltando para a correntinha: Tiffy e Leon continuam dando formas a uma simples linha, só que em certos momentos Tiffy trava e desfaz alguns pontos. Isso porque ela está tentando escapar das amarras de um relacionamento abusivo sem ao menos entender que ele a faz mal. Justin frequentemente brinca com seus sentimentos, seu psicológico e a faz duvidar de si mesma, das suas próprias ações e decisões. Então, quando ela está bem, sorrindo e conquistando coisas, já quase solta de sua influência, ele aparece, como um fantasma. É um jogo psicológico e Tiffy está cansada de não entender o que ele quer. Existem momentos que ele a trata bem, diz que a ama, no outro tá com outra mulher, a cobrando por um aluguel. Mas além disso, é que ele a faz duvidar do que ela pensa, do que é melhor para ela. Então ele poda sua autoestima, seus gostos, suas amizades e até mesmo manipula suas decisões, fazendo a acreditar que disse uma coisa quando na realidade disse outra. Por isso que é tão difícil para Tiffy continuar construindo sua correntinha: porque de hora para outra vem uma mão segurando a sua e desfaz todos os pontos construídos com tanto suor. Simplesmente por ele achar que sabe o que é melhor para ela. 


Isso é um relacionamento abusivo. O abusador não precisar gritar, espernear, bater, mas ele machuca tanto e fere seu psicológico que você simplesmente se torna dependente dele, para cuidar e chutar na hora que quiser. 


"Meu pai gosta de dizer que "a vida nunca é simples". É uma de sus frases favoritas


    Na verdade, não concordo. A vida costuma ser simples, mas a gente não nota até que ela se torna absurdamente complicada, tipo quando só se fica feliz por estar bem quando se fica doente, ou quando só se fica feliz com sua gaveta de meias-calças quando se rasga um par e não tem nenhum sobrando." Página 178


Só que entre os post-its engraçadinhos e comidas deixadas um para o outro, Tiffy e Leon criam um laço forte. Ambos se importam verdadeiramente um com o outro. Tiffy se mostra um grande apoio para Leon e toda a situação que ele está passando, dando para ele a pontinha de esperança que tanto precisava. 


Tiffy precisava de alguém que a enxergasse, a valorizasse e fizesse seu sorriso ser mais fácil, que não fosse alguém para apagar o seu brilho e não comemorar suas conquistas. Esse é alguém é Leon. Dessa forma, a relação deles começa na mais pura forma de apoio e empatia. Ambos são gentis um com o outro e era isso que eles precisavam. 


Importante frisar que nessa jornada eles não estavam sozinhos, Gerty, Mo, Richie, Rachel e tantos outros personagens constroem a ponte para que eles se fortalezam individualmente e juntos. 


Quando enfim li a última página e fechei o livro, fiquei muito feliz em ver que a correntinha estava completa e que um nó apertado havia sido feito em seu final. O caminho jamais seria desfeito novamente.