É só sentar e escrever. Era o que eu me dizia quando costumava explorar mais as palavras para expressar o que penso e sinto. Não sei bem quando, nem o porquê, mas perdi o meu costume de escrever. As sentenças se formam na minha cabeça, mas no papel, as palavras não passam de unidades sem valor, parece um poema dadaísta com palavras aleatórias e sem conteúdo algum.
Sinto falta de gostar do que escrevo. Considerava até que podia ser, de certa forma, a minha contribuição artística para o mundo. Era aquela a minha arte, com seus defeitos e tanto a melhorar – hoje, releio os meus textos e me pergunto o que passava pela minha cabeça anos atrás para pensar que havia ficado bom. É, talvez a autocrítica seja um empecilho agora. E eu até que sou grata pela Letícia de quinze, dezesseis anos escrever o que viesse em sua mente porque é justamente isso o que eu não consigo fazer hoje em dia.
Não me leve a mal, eu não estou sofrendo. A vida anda um tanto parada, monótona, e antigamente eu odiaria isso, mas hoje, não. Hoje, estou bem. A calmaria se separa da felicidade por uma linha muito tênue para os meus parâmetros. Pergunto-me se é por estar bem que não consigo escrever, se a minha arte era baseada apenas nas coisas ruins que sentia, se é tão difícil assim falar sobre o que é bom. Já vejo tanta maldade, tanta mentira, tanta coisa ruim acontecendo, pessoas reais com problemas reais... É justo querer falar sobre amor e esperança? Estou certa em fantasiar histórias românticas, ver beleza onde parece não haver?
Olho para a mulher em pé no ônibus, de óculos de grau, cujos olhos parecem perdidos e cansados. O cabelo cortado me diz que ela é vaidosa, assim como as unhas pintadas de vermelho e a sobrancelha feita. Seu rosto não parece tão feliz, mas pode ser só cansaço. Concentro-me nela porque, de alguma maneira, quero acreditar que ela vai me inspirar a escrever alguma coisa. Mas eu só consigo pensar, pensar, pensar. Ela tem filhos? Um relacionamento amoroso? Será que está indo para casa ou indo trabalhar? Eu queria saber a história dela, porque... Bom, eu não sei o motivo, mas ela me despertou a curiosidade e era disso que eu sentia saudade.
E é também o que me causa inquietação. Os dias estão cinzentos, o meu corpo parece sempre mais pesado quando preciso levantar de manhã para ir para a faculdade e eu ainda preciso recuperar o sono de uns três dias atrás... A minha história parece ter caído um pouco na rotina, mas tem milhares de outras para contar, criar, imaginar. E eu não queria que ela focasse nas partes ruins, mesmo que a vida também seja feita delas, como um dos ingredientes principais. As histórias não precisam ser irreais... Quero mesmo que digam a verdade. Mas que não apaguem o que é bom, o que nos faz suspirar e nos dá coragem para viver. 
Hoje, eu quis escrever como eu fazia antes. Sem pensar muito, sem problematizar minhas ideias, sem calcular meticulosamente minhas palavras. Percebi que estava fazendo com a minha arte o que eu não podia fazer com a vida e isso não funcionou. Eu sou intensa, os sentimentos são viscerais dentro de mim, tudo é avassalador. Preciso de algum meio para externalizar tudo isso antes que eu exploda. 
Eu só não decidi ainda se é certo querer falar do que sinto de bom, mas vou continuar tentando, buscando reencontrar o meu espaço mediante o que eu escrevo. No fim das contas, se eu for falar sobre mim e o que eu vivo e vejo, sempre vou acabar falando de amor.

Bloqueio de escrita, ou eu acabo com você ou você acaba comigo. Eu decerto escolho a primeira opção. O título do texto é um trecho da música "Dinossauros", da banda Dingo Bells. Achei muito compatível com o que eu quis dizer. Ou talvez até caia em um paradoxo, mas isso fica para um outro texto. 



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