"Não é ótimo quando descobrimos que não somos exatamente o que pensávamos ser?" (pág. 55)

Os Segredos de Colin Bridgerton

Autora: Julia Quinn
Editora: Arqueiro
Ano de publicação: 2002 (tradução: 2014)
Número de páginas: 328
Narração: 3ª pessoa
Título original: Romancing Mister Bridgerton
Sinopse: Há muitos anos, Penelope Featherington frequenta a casa dos Bridgertons. E há muitos anos alimenta uma paixão secreta por Colin, irmão de sua melhor amiga e um dos solteiros mais encantadores e arredios de Londres.
Quando ele retorna de uma de suas longas viagens ao exterior, Penelope descobre seu maior segredo por acaso e chega à conclusão de que tudo o que pensava sobre seu objeto de desejo talvez não seja verdade. 
Ele, por sua vez, também tem uma surpresa: Penelope se transformou, de uma jovem sem graça ignorada por toda a alta sociedade, numa mulher dona de um senso de humor afiado e de uma beleza incomum. 
Ao deparar com tamanha mudança, Colin, que sempre a enxergara apenas como uma divertida companhia ocasional, começa a querer passar cada vez mais tempo a seu lado. Quando os dois trocam o primeiro beijo, ele não entende como nunca pôde ver o que sempre esteve bem à sua frente. 
No entanto, quando fica sabendo que ela guarda um segredo ainda maior que o seu, precisa decidir se Penelope é sua maior ameaça ou a promessa de um final feliz.
Em Os Segredos de Colin Bridgerton, quarto livro da série Os Bridgertons, que já vendeu mais de 3,5 milhões de exemplares, Julia Quinn constrói uma linda história que prova que de uma longa amizade pode nascer o amor mais profundo.

Acho que já deixei bastante claro na resenha anterior o quanto eu sou grata ao livro 3 da série Os Bridgertons por me permitir chegar a este. Todas as expectativas que eu trouxe até aqui foram atendidas e supridas pelo meu mais novo casal favorito: o bem humorado Colin Bridgerton e a brilhante Penelope Featherington.
Eu não sei nem por onde começar a falar sobre um livro que me deixou tão apaixonadinha durante a leitura. Então, vamos por partes.
As grandes estrelas desse romance são, como deveria ser, o casal que protagoniza. Comecemos por ele: Colin é, até agora, o meu Bridgerton homem favorito. Veremos se Gregory poderá superar isso, mas o irmão número 3 é muito querido por mim. Eu adoro seu humor e adoro sua sagacidade, tudo nele atendeu a tudo o que eu esperava.
"Jamais lhe ocorrera que escrever fosse algo prazeroso para ele. Era algo que simplesmente fazia. Fazia-o porque não conseguia se imaginar sem aquilo. Como viajar para terras estrangeiras e não manter um registro do que via, do que vivenciava e, talvez o mais importante, do que sentia?" (página 89)
No entanto, eu vou arranjar uma briga com alguém que disser que esse livro não é sobre a Penelope. Para mim, ela é a estrela mais luminosa desse livro. É tudo sobre ela, tudo. Se tornou a minha "mocinha" favorita. Forte, inteligente, perspicaz... Muito autêntica, mesmo que quase ninguém enxergasse isso nela. 
Os diálogos deles dois eram tudo o que eu ficava esperando no livro. São envolventes, inteligentes, exprimem o melhor dos dois. Eu amo que até os segredos deles se conversam e fazem com que eles se encaixem tão bem, assim como o conceito que cada um tinha sobre "realização de vida". Em determinado momento, a sensação que eu tinha era de que o ideal de vida de sucesso para Penelope era o que Colin tinha e, para ele, o contrário. Isso adiciona uma camada de profundidade na história deles que vai além da quebra de expectativas da sociedade em ver uma Featherington (e justo aquela) casada com um Bridgerton (e justo aquele). 
"- Eu te amo mais do que tudo. - Ele se inclinou para frente e a beijou suavemente nos lábios. - Pelos filhos que teremos, pelos anos que passaremos juntos. Por cada um dos meus sorrisos e mais ainda pelos teus." (página 299)
A cereja do bolo, para mim, foi a relação de Penelope com Lady Danbury, essa que só criei mais afeição desde que assisti à série. 
Sou muito suspeita para fazer essa resenha. Enquanto na anterior eu praticamente só fui críticas negativas, aqui eu sou apenas elogios. Fugindo dos spoilers, devo dizer bem por cima também que amei o desfecho. Estou apaixonada pelos dois. Leria muito mais. 
Foi ótimo para finalizar essa primeira metade da série, satisfeita com a forma como Julia Quinn traça os caminhos de seus personagens tão independes e, ao mesmo tempo, tão bem costurados. É normal já estar sofrendo com o fim daqui a alguns livros?

Os Sete Maridos de Evelyn Hugo

Autora: Taylor Jenkins Reid
Editora: Paralela
Ano de publicação: 2017 (tradução: 2019)
Nº de páginas: 360
Narração: 1ª pessoa
Título original: The Seven Husbands of Evelyn Hugo
Sinopse: Lendária estrela de Hollywood, Evelyn Hugo sempre esteve sob os holofotes – seja estrelando uma produção vencedora do Oscar, protagonizando algum escândalo ou aparecendo com um novo marido... pela sétima vez. Agora, prestes a completar oitenta anos e reclusa em seu apartamento no Upper East Side, a famigerada atriz decide contar a própria história – ou sua "verdadeira história" –, mas com uma condição: que Monique Grant, jornalista iniciante e até então desconhecida, seja a entrevistadora. Ao embarcar nessa misteriosa empreitada, a jovem repórter começa a se dar conta de que nada é por acaso – e que suas trajetórias podem estar profunda e irreversivelmente conectadas.

"Porque eles são só maridos. A Evelyn Hugo sou eu."
É isso o que acontece quando começamos um livro com muitas expectativas e ele vai nos surpreendendo a cada novo capítulo? É normal sentir que alguma coisa que ele trouxe nos mudou? Foi essa a impressão deixada em mim por esse livro. 
De cara, confesso que não simpatizei muito com ele. Começa com a voz de Monique Grant, uma jornalista que aparenta ter uma vida nada extraordinária. Está tentando subir na carreira e rapidamente é possível perceber como isso é algo importante para ela – pelo que entendemos logo nos primeiros capítulos, ela acabou de se divorciar numa daquelas bifurcações "escolher o marido" x "escolher a carreira". Embora seja convicta pelo caminho da sua carreira, ela ainda sofre um pouco pelo término, ocorrido há poucas semanas. 
"Precisa encontrar um trabalho que faça seu coração bater mais forte, e não um que deixe seu peito apertado."
É logo no começo que Monique é procurada pela assessoria de Evelyn Hugo para realizar uma suposta entrevista. Após anos reclusa, Evelyn há muito tempo não faz tantas aparições públicas e as entrevistas, então, foram extintas. Mas agora, com quase 80 anos, tendo uma das vidas mais conturbadas, polêmicas e – por que não? – bem vividas de Hollywood, ela está organizando um leilão de seus lendários vestidos e todas as revistas estão atiçadas para conseguir o máximo de informação sobre isso.
Quando Monique e Evelyn se conhecem, fica evidente que existe algo por trás do motivo para Evelyn chamá-la, especificando que se não fosse a jornalista em questão, não seria mais ninguém. Mas o motivo não é revelado a princípio e, cá entre nós, não é a busca por ele que faz com que o leitor fique preso a esse livro. O grande e inabalável motivo tem nome, sobrenome, carisma e talento invejáveis: Evelyn Hugo.
A proposta de Evelyn, então, é que Monique escreva uma biografia autorizada da atriz, que só poderá ser publicada após a sua morte. À medida em que Evelyn conta a sua história, falando sobre toda a sua carreira e tudo o que nunca foi contado sobre seus sete maridos, rapidamente descobrimos que a história dela vai muito além disso. 
"O que fica na minha cabeça no fim de semana – da sexta à noite ao domingo de manhã no parque – não é "como meu casamento foi por água abaixo?", e sim "quem diabos foi o grande amor da vida de Evelyn Hugo?""
Quantas mulheres não foram reduzidas a seus relacionamentos amorosos? Quantas mulheres não foram rotuladas de acordo com seus corpos, deixando de lado quem elas realmente eram/são? Evelyn nos faz pensar sobre como a nossa sociedade ainda tem muito o que aprender, mesmo que a história que ela está contando, em grande parte, tenha se passado no século passado. 
Evelyn é uma das personagens mais difíceis de descrever, tal como seu livro. A única coisa que posso afirmar com certeza é que fui muito cativada por ela, assim como Monique se sentiu durante todo o período em que estiveram juntas. Devido aos sentimentos conflitantes, nesse livro todo tipo de sentimento pelas personagens é permitido, sobretudo perceber seus erros. Durante a leitura, nós somos chamados a ponderar suas escolhas e atitudes porque, afinal, é uma história que evoca muito a nossa capacidade de ser empático. Você não precisa achar se é certo ou errado, só precisa entender que houveram motivações e, sobretudo, não há arrependimento em Evelyn por ter sido quem foi e por ter feito o que fez.
"Desconfie de homens que precisam muito provar alguma coisa."
Eu vou indicar esse livro para todo mundo, porque é incrível. O símbolo feminino representado por Evelyn e toda a discussão que o livro pode trazer sobre sexualidade tornam essa história tão necessária! E se você for se aventurar por ela, fique ciente de que são pouquíssimos os homens que prestam nessa história – eu avisei que é bem próxima da realidade... E que ela não é mesmo sobre eles. Além disso, aborda temas tão relevantes que, mais do que nunca, resgatam essa história fictícia para a nossa atual realidade.



Foto: Acervo pessoal | Frase do rapper Emicida reproduzida no documentário "AmarElo" (Netflix).

Hoje, há quase um ano vivendo de perto esse caos que meses antes chegou por aqui na Terra, tive um daqueles baixos dentre tantos altos que persisto em viver apesar de tudo. Aqueles baixos em que o meu quarto, que geralmente é confortável e me abriga bem, começou a parecer pequeno - o teto mais baixo, as paredes mais estreitas, um calor inexplicável e a necessidade de sair daqui.

Não, não sair para qualquer lugar. Não obstante tanto tempo, ainda me reservo no direito de ser um pouco exigente. Eu queria ver gente. Queria ver gente andando, falando, rindo alto de uma maneira que não fosse por meio de uma tela. Queria não ser interrompida por uma conexão ruim. Queria não ter que encarar a frieza das mensagens por WhatsApp.

Sei que não é à toa que o momento roubou o nosso riso e tirou o brilho dos nossos olhos. São pessoas partindo todos os dias. Milhares delas. Todos os dias. E estamos, mais do que nunca, nas mãos de um maluco genocida. É demais querer que alguém esteja sorrindo nesse momento. 

Mas a saudade é inevitável. Uma saudade que não vem com data de validade, porque sequer imaginamos quando sairemos disso. Assim, vamos vivendo dia após dia, esperando o momento em que poderemos passar pela porta e reviver a liberdade. E me dirijo até mesmo àqueles que estão preferindo se expor e se colocar em risco, porque, cá entre nós, isso não é a verdadeira liberdade. Mesmo que em graus diferentes, essa onda caótica atinge a todos nós e me dói saber que alguns não se importam com isso. Desses, também sentirei certa saudade.

Digo isso porque, sim, essas pessoas já não podem estar mais aqui (nesse lugar que criei para proteger os meus). Sendo bem sincera, não sei até que ponto essa situação toda vai nos ensinar em termos de humanidade. Admiro quem consiga ser tão esperançoso assim. Mas é fato que me ensinou muito sobre quem eu quero comigo e sobre quem se mostrou egoísta, mesquinho e ignorante. Vou sentir saudade da ideia que eu tinha antes sobre essas pessoas.

A saudade de agora, como eu ia dizendo, não se direciona completamente a indivíduos específicos. Ela me fala sobre aquele tempo em que eu ia para a faculdade em um ônibus lotado, sozinha com o céu cheio de nuvens que é a minha cabeça com tanto pensamento atropelado. Saudade de tomar café com meus amigos na barraquinha que fica na esquina da faculdade. Saudade de encontrar minhas amigas da escola e recontar as mesmas histórias que lembramos sempre que estamos juntas - e rimos da mesma maneira. Saudade de fazer planos com data de realização, sabe? Coisas concretas. É isso. Tudo hoje parece que está flutuando na nossa frente. Uma onda de incertezas com a qual não sei lidar e me inunda todos os dias.

Tem uma frase dita pelo Emicida que me toca sempre que essa saudade me invade, sempre que penso como antes o abraço era fácil, sempre que me dói pensar em todas as vidas perdidas. "É no encontro que a nossa existência faz sentido". Como, então, encontrar sentido nesses tempos de tantos desencontros? 

Se o abraço falta, se o toque não é permitido, se existem tantas barreiras nos impedindo de viver - e tantas coisas nos ameaçando de perder a vida... Eu só espero que possamos continuar cuidando dos nossos, mesmo que aos trancos e barrancos. Lamentando a perda de muitos, torcendo para que não hajam tantas a mais. Estou morrendo de medo, sabe? Mas tentando lembrar da frase do Emicida para que, quando puder encontrar todo mundo, as coisas voltem a fazer sentido.



Autor(a): Lyssa Ray Adams 

Editora: Arqueiro 

Nº de páginas: 320

Narração: 3º pessoa

Sinopse:

A primeira regra do clube do livro é: não fale sobre o clube do livro. 


Gavin Scott é um astro de beisebol, devotado ao esporte. No auge de sua carreira, ele descobre um segredo humilhante: a esposa, Thea, sempre fingiu ter prazer na cama. Magoado, Gavin para de falar com e ela e acaba piorando o relacionamento, que já vinha se deteriorando. Quando Thea pede o divórcio, ele percebe que o orgulho e o medo podem fazê-lo perder tudo. 


Bem-vindos ao Clube do Livro dos Homens 


Desesperado, Gavin encontra ajuda onde menos espera: um clube secreto de romances, composto por alguns dos seus colegas de time. Para salvar seu casamento, eles recorrem à leitura de uma sensual trama de época, Cortejando a condessa. Só que vais ser preciso muito mais do que palavras floreadas e gestos grandiosos para que Gavin recupere a confiança da esposa.


Eu poderia fazer essa resenha de diversas formas: falar sobre a narrativa equilibrada do livro, da importância que a história dar aos romances, ou mesmo sobre casamentos. Mas decidi ir pelo caminho em que tenho que me abrir com vocês. 

Nas primeiras páginas do "Clube do Livro dos Homens" conhecemos Gavin Scott, não como o famoso jogador de beisebol, mas como um bêbado chorando as mágoas de um casamento fracassado. Sua esposa, Thea, pediu o divórcio após informar ao marido que não sentia mais prazer com ele. Na tentativa de entender o que precisava para salvar seu casamento, Gavin entra em um clube secreto de romances, formado por colegas de time e alguns conhecidos da cidade. Para surpresa de Gavin, ele enxerga o reflexo de sua própria história nas páginas de uma trama de época e descobre que tem muito a aprender sobre o casamento e si mesmo. 

"— Palavras não importam, Gavin — explicou Mack, estranhamento sóbrio. — São as ações que contam. E, se ela aprendeu a desconfiar do amor na infância, não importa quantas vezes você se declare. Você a fez duvidar do amor quando foi embora." Capítulo 8

É exatamente esse reflexo que Gavin enxerga que me fez enxergar o meu próprio. Isso porque a narrativa de Lyssa Kay Adams é divertida, bem construída, inteligente e com críticas diretas a visão que os homens e a sociedade têm dos romances, mas sim porque ela não enxerga seus personagens como uma simples página. Eles são um livro todo. Existe Thea antes de Gavin e Gavin antes de Thea, e todas as feridas que foram abertas no passado e mal suturadas decidiram romper todos os pontos agora. E assim como Gavin, eu tenho problemas na fala. Falo rápido demais, me atropelo, às vezes gaguejo e sei como é doloroso o olhar do outro quando é algo que você não faz porque quer. 

"Ele estava fingindo. Estava fingindo havia meses antes daquela noite. Fingindo que tudo estava bem entre os dois quando claramente não estava, porque era mais fácil fingir do que enfrentar a verdade: estavam se afastando, ele a estava perdendo." Capítulo 20

Um dos pontos centrais da narrativa é a família. Thea e Gavin se casaram às presas quando ela engravidou de gêmeas. Ele, vindo de uma família aparentemente perfeita, não se sente confortável em assumir que o casamento não está indo tão bem. Ela, por sua vez, vinda de uma família partida, sente que está repetindo as falhas dos pais e se perdendo. Dessa forma, mesmo com as tentativas de Gavin de reatar o casamento, Thea não consegue se entregar. Os machucados de seu passados continuam doendo, sangrando e ela acredita que Gavin será mais um a abandoná-la. 

Talvez quem não tenha uma história frustrada com o pai, ou mesmo com alguém muito importante que tenha te machucado muito, Thea pode parecer "complicadinha" demais, mas não é. Eu a entendo. A sensação de abandono fica para sempre na gente, principalmente quando vem de alguém que deveria ser o nosso porto seguro. Lembro como se fosse hoje, mesmo que na época tivesse 5 anos, do meu pai indo embora. Lembro de ir me perdendo dele ao longo dos anos, da gente olhando um para o outro, sabendo que ali existe amor, mas não reconhecimento. E essas dores, assim como outras, me fizeram ser uma pessoa fechada para relacionamentos com homens, para confiar neles em geral. 

E assim como Thea, eu fingia. Fingir que tá tudo bem é mais fácil, só que uma hora a gente cansa e vê que existe uma bagunça enorme para ser consertada. Por esses motivos, o "Clube do Livro dos Homens" foi tão importante pra mim. Ele abriu meus olhos para o que eu não queria ver e mostrou porque era importante que eu passasse a enxergar. 

O "Clube do Livros Homens" fala sobre casamento, amor, amizade, romance, mas, sobretudo, da importância de curarmos as dores antigas para que possamos desfrutar do presente e construir um futuro sem mágoas.