Niguém solta a mão de ninguém. arte da Tereza Nardelli

Às vezes, parece que não aconteceu; eu volto para aqueles dias em que estávamos entre os dois turnos e o clima ainda permite uma esperança viver. Isto nunca foi tão real: ela é a última que morre. Sua morte trouxe más notícias; ele ganhou. E eu acredito que a esta altura, você saiba sobre quem estamos falando. Sim, ele, a vitória de quem não foi feliz para as pessoas sensatas. Desde o resultado, eu não consegui desejar boas coisas para os próximos anos. Não consigo torcer para que ele, pelo menos, não faça coisas tão ruins. Eu só sinto medo e é por isso que eu demorei tanto tempo para conseguir escrever.
Sinto medo por mim, pelos meus amigos, pelo meu namorado, pelas minhas irmãs, parte da minha família... Muitas pessoas ao meu redor sofrem por conta do preconceito e do ódio que ele prega. Eu ensaiei vários discursos sobre o que eu sou (envolvendo a formação de professora e o ser mulher) e sobre o que eu acredito, coisas que justificassem o fato de eu ser contra tudo o que ele diz, mas agora eu sei que nada disso é necessário. Basta que eu seja humana e defenda os direitos de todos, eu já não posso concordar com metade do que ele representa, assim como eu não podia me dar ao luxo de lavar as mãos e tratar esta eleição como "tanto faz".
Foi decisivo saber quem votou nele. Mostrou a verdadeira face de alguns que eu não fazia ideia de quem eram. Tornou irreversível alguns conflitos e, sinceramente, não me arrependo. Pelo menos não por enquanto, que ainda estou ferida por tanta bobagem que ouvi, vi e li. Talvez, daqui alguns anos, eu até queira voltar a falar. E será por dois motivos - apenas por eles: para dizer que eu estava errada, que ele não foi tão horrível quanto sinto agora que será; ou para dizer que eu estive do outro lado e, assim, certa pela minha decisão. Na verdade, uma correção: nas duas situações, eu sinto orgulho do lado que escolhi. Sinto orgulho dos movimentos, da resistência, da corrente que foi criada e eu espero de todo coração que não se quebre por qualquer circunstância. É agora que precisamos apertar mais a mão, fortalecer mais os pulsos. Nós precisamos apoiar os que estão mais desamparados, mas precisamos nos deixar chorar também. São tempos muito difíceis para todos nós que sentimos por isso. Os que não sentem ainda, não sabem, mas sentirão também. Pode não parecer no princípio, mas o ódio machuca tanto o destinatário quanto o remetente.
Estou tentando pensar um pouco como Dumbledore, que em uma de suas primeiras falas já nos encoraja a chamar o nosso medo pelo nome que lhe foi dado. Talvez seja a hora de encarar e pensar em outras formas de resistir a estes tempos. Nós somos #EleNão. Lutaremos para que Bolsonaro não tire nossa voz.

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