(via Pinterest)
Hoje tomei
banho de chuva.
Foi engraçado
porque já fazia muito tempo que eu não deixava de abrir o guarda-chuva. Tomei
por livre e espontânea vontade, em um impulso, completamente diferente de
quando eu era criança e era regra me molhar se começasse a chover – sabe como
é, né, cidade do Nordeste...
A questão é
que eu estava ali, deixando a água cair em mim, pensando como era louco o fato
de que parecia chover muito mais do que de fato caía água na minha pele. Mas
ali, olhando para o céu, eu também pensava como era ainda mais louco que eu
estivesse achando incrível demais que seja possível cair água do céu, ainda que
eu saiba das explicações científicas e tudo mais. Eu, que rio da cara de
criacionistas (com todo respeito) com meus polegares opositores, estava ali,
admirando a água que cai do céu, gelada, abundante.
Os fenômenos
naturais sempre me alcançaram de formas diferentes. Nunca foi apenas chuva, nem
apenas estrelas cadentes e arco-íris. Parecem ser mais que isso.
Quando me
reencontro com gotas de chuva, meu queixo batendo de frio, eu penso que
reencontro meus sonhos que deixei para trás, na última vez que tomei banho de
chuva. É incrível me perceber diferente hoje, com o cabelo mais indeciso, a
pele passando por várias mudanças, uma tatuagem, a cabeça com várias novas
ideias e algumas reconfiguradas, posso dialogar facilmente sobre autoestima e relação com o corpo, defendo causas que antigamente me pareciam distantes... Talvez só as unhas mantiveram-se pintadas de
preto. Provavelmente, isso será a última coisa que mudarei em mim.
Eu me sinto
ótima em saber que não preciso de muito para me colocar no eixo. Sem falar na
felicidade que tenho em vestir a roupa quentinha depois, pegar no cabelo
molhado e ter a certeza de que, se eu me perder, virão outros dias de chuva.
Mesmo que demorem e que fique muito quente antes de finalmente esfriar, a água
vai cair. Vou sentir tudo de novo.