National Geographic Traveler 2012
(via Pinterest)

Hoje tomei banho de chuva.
Foi engraçado porque já fazia muito tempo que eu não deixava de abrir o guarda-chuva. Tomei por livre e espontânea vontade, em um impulso, completamente diferente de quando eu era criança e era regra me molhar se começasse a chover – sabe como é, né, cidade do Nordeste...
A questão é que eu estava ali, deixando a água cair em mim, pensando como era louco o fato de que parecia chover muito mais do que de fato caía água na minha pele. Mas ali, olhando para o céu, eu também pensava como era ainda mais louco que eu estivesse achando incrível demais que seja possível cair água do céu, ainda que eu saiba das explicações científicas e tudo mais. Eu, que rio da cara de criacionistas (com todo respeito) com meus polegares opositores, estava ali, admirando a água que cai do céu, gelada, abundante.
Os fenômenos naturais sempre me alcançaram de formas diferentes. Nunca foi apenas chuva, nem apenas estrelas cadentes e arco-íris. Parecem ser mais que isso.
Quando me reencontro com gotas de chuva, meu queixo batendo de frio, eu penso que reencontro meus sonhos que deixei para trás, na última vez que tomei banho de chuva. É incrível me perceber diferente hoje, com o cabelo mais indeciso, a pele passando por várias mudanças, uma tatuagem, a cabeça com várias novas ideias e algumas reconfiguradas, posso dialogar facilmente sobre autoestima e relação com o corpo, defendo causas que antigamente me pareciam distantes... Talvez só as unhas mantiveram-se pintadas de preto. Provavelmente, isso será a última coisa que mudarei em mim.
Eu me sinto ótima em saber que não preciso de muito para me colocar no eixo. Sem falar na felicidade que tenho em vestir a roupa quentinha depois, pegar no cabelo molhado e ter a certeza de que, se eu me perder, virão outros dias de chuva. Mesmo que demorem e que fique muito quente antes de finalmente esfriar, a água vai cair. Vou sentir tudo de novo.

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