Queria ter talento para te escrever uma ode - uma que declarasse a ti o meu amor inteiro. Mesmo assim, com todo o talento do mundo, eu ainda não poderia escrever tudo. Não nos cabe em gênero textual algum. Não nos cabe nesse universo imenso que é só nosso, mas nós o aumentamos e moldamos aos nossos padrões. Cabe-nos no beijo da chegada, que parece antes anos e anos sem ver você. Cabe-nos no abraço de quando você vai embora e eu me pego pedindo aos céus que seja breve o nosso próximo encontro. 
Eu cantaria a ode todos os dias se ela eu conseguisse fazer. Eu te amaria em versos líricos para você me sorrir e os seus olhos ficarem ainda menores do que já são. Você me pegaria a mão e a beijaria, como sempre faz transbordando as gentilezas que compreendem-se em ti. A ode seria escrita por mim, mas seria tão sua que eu perderia a autoria. Falaria sobre você, sobre a forma que você me veio quando eu não achei que fosse; a forma que você ficou quando eu quase caí - coisa essa que você nunca deixou; a forma como você colore todo o meu mundo preto e branco, escuro, embaçado. 
O que eu escreveria teria o teu cheiro. Aquele cheiro que não vem de nenhum perfume importado, mas um que é tão seu e tão meu quando gruda em mim. Eu escreveria com tudo o que eu pudesse usar - que repito: seria tão pouco -, sobre todas as vezes em que eu quis correr para os seus braços e me perder ali dentro, pois dentre tantos lugares pequenos, nele me cabe. Nele me cabe e me sobra. 
Talvez eu recorresse a outros tipos textuais, na tentativa falha de concluir meus planos. Mas eu já falei sobre o tamanho do teu coração? Tem algo de não-humano nele, como tem algo de meu que eu mesma nomeei e me apossei e você mesmo me entregou. E desde então, eu só soube cuidar desse amor todo como alguém materialista cuida da pedra preciosa que mais tem; mas eu não me limito ao material. Vou até ao irreal para amar você, de maneiras que eu demorei para perceber que conseguiria, mas eis me aqui. Eis que você me ensina dia após dia o que é ser eu de novo, mesmo que o nosso poema não tenha rimas perfeitas ou que até na elegia você consiga achar uma ponta de felicidade no mundo. Nas minhas epopeias, você sempre será o principal.
Em uma ode, ou em qualquer outro tipo, não cabem nossas palavras que às vezes nem conseguimos dizer, no silêncio que somente nós conseguimos decodificar. E elas significam muito mais do que aquelas que já foram ditas.


Deixe um comentário