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Mordeu a língua quando percebeu
que metade daquele discurso empoderado cairia por terra porque não vivia o que
dizia. Mandava que outros amassem, mas não se sentia amada por si mesma. Dizia
para que militassem, segurassem suas bandeiras e lutassem suas próprias lutas –
mas sempre que ouvia alguém com opiniões divergentes das suas e essa pessoa de
alguma forma levantasse um ar de superioridade, geralmente uma hierarquia fundamentada
no patriarcado, se calava, se encolhia, preferia guardar suas contra
argumentações para seus textos e pensamentos.
Precisou criar coragem para se
encontrar. Porque também é confuso se encontrar dentro da militância. É difícil
segurar o que você defende e estar ciente do que não concorda. Depois disso,
também é difícil possuir o discurso próprio dentro disso e se sentir seguro o
bastante porque às vezes mesmo dentro do movimento, você se sente contestado,
diminuído diante da militância de outros.
Ah! E ainda tem quem diminua sua
luta em detrimento de outras. Porque não basta você se sentir menor, os outros
contribuirão para isso. Morde a língua quem tem vergonha do que pensa e
enquanto você estiver lutando por si, pelo seu espaço, não sinta medo. E sim,
isso é para você, Letícia, que ouve seu pai falando do que ele pensa, discorda
de tudo e tem medo de rebater. Isso é para você, Bruna, que ouve piadas
gordofóbicas e cai na bobagem de pensar que precisa mesmo emagrecer pelos
outros. É para você, Elis, que é perseguida por olhares masculinos na rua, com
medo, e olha que você está de calça jeans e camiseta! Imagine! É para você,
Marina, que tem jornada de trabalho tripla porque trabalha fora, é mãe e ainda
tem uma rotina em casa porque seu marido não faz nada em prol do funcionamento
doméstico. É para você, Júlia, que pretende adotar ao invés de engravidar para
ser mãe e ouve que você está fugindo o que foi predestinado a você, como se
alguém soubesse sobre o destino de qualquer pessoa. É para nós, mulheres, que
somos vítimas de feminicídio todos os dias, da violência na rua e dentro de
casa, do machismo por vezes entre nós mesmas. É por nós que precisamos agir.
Precisamos de sororidade.
Precisamos parar de morder a
língua pelos outros e gritar mais pelas mulheres que somos. Podemos e somos
fortes demais. A mulher já conquistou muito, mas ainda é pouco em comparado a
tudo que tiram e privam de nós. O feminismo não deveria ser coisa de mulheres
que querem fazer parte de algum movimento, que são mais “rebeldes” (com causa!)
e de meios mais informados. O feminismo, hoje, já é uma questão de
sobrevivência.
Há umas semanas, Ariana Grande nos deu a graça do clipe de "God is a woman", repleto de referências de arte e do pop, e hoje, que eu fui atrás de mais significados, me acendeu a vontade para o texto. Eu me expresso muito, muito melhor escrevendo do que falando. E acredito que consigo até organizar melhor as coisas em que venho pensando quando coloco em palavras escritas. E pelo que tenho lido, assistido e ouvindo ultimamente, podem esperar mais textos do mesmo assunto e vamos praticar mais da sororidade, amigas. ♡