(Reprodução:Pinterest)

Lembro da primeira vez que disse "eu te amo". Não o eu te amo para qualquer familiar ou amigos, mas o "eu te amo" de quem preenchia o meu peito com outro tipo de paixão, aquele que me tirava do eixo e me fazia passar noites em claro, mas que também era o meu conforto de tantas horas. Mas eu estava falando sobre a primeira vez que disse as três palavrinhas mágicas. Nós tínhamos subido 2 lances de escada com as mãos lotadas de sacolas do supermercado e tínhamos sentado no chão da cozinha e guardávamos os quilos de arroz, latas de milho e enchíamos os potes de tupperware - que minha mãe tinha me dado - de mantimentos, quando entre um feijão e um requeijão eu virei e encontrei você, ajeitando o óculos no rosto e lendo o rótulo da ricota, um habito que você adquiriu depois de descobrir uma intolerância esquisita. O seu rosto estava concentrado, o nariz franzido e naquele segundo eu sabia que te amava, mesmo com as neuroses que me infernizavam. Então cutuquei o seu ombro e deixei as palavras escaparem da minha boca, tão naturalmente como nunca pensei que aconteceria. Não existia tremedeira, nem desconforto, apenas a verdade, eu amava você, e que você lidasse com isso. Mas então o sorriso tomou conta dos teus lábios e foi a minha vez de escutar aquelas palavras pequenininhas escaparem de ti. Pulei em seu pescoço e nos beijamos ali, rodeados de sacos de macarrão, com um pacote de cuscuz nas suas pernas e uma ricota em sua mão. Foi o melhor eu te amo que eu poderia dar e receber. Depois nós acabamos de guardar tudo e nos sentamos no sofá, tentando achar algo de bom na Netflix, mas acabamos rodando boa parte do  catálogo e assistindo um episódio repetido de uma série que já amávamos.
Hoje, depois de uns anos compreendendo o sentimento um do outro, olho para trás e tenho orgulho da nossa história de quase uma década. Não demoramos a namorar, nem muito menos a nos beijar, mas demoramos quase 2 anos para finalmente falarmos as palavras que as pessoas amam explanar na internet. Você sabia desde o começo que eu queria algo real, junto com sentimentos que estivessem presos ao meu caminhar. Então todo aquele momento foi cercado por quem éramos e somos. Foi necessário noites em claro, carícias, saudade, novos apartamentos e viagens para nos descobrirmos um pouquinho. 
Toda essa história continua a mesma, a diferença é que agora aparecem cabelos brancos de estresse entre os fios escuros da minha cabeça, você trocou de óculos várias vezes e tirou centenas de fotos minhas. Andamos descalços na praia ao amanhecer, dançamos no escuro da nossa primeira casa, na noite que fizemos a mudança e descobrimos que teríamos que aturar um ao outro por um tempo muito maior e não poderíamos fugir depois de uma discussão pesada. 
O eu te amo dos nossos 20 e poucos continua o mesmo dos nossos 30 e bolinhas, só que agora temos muitas páginas a mais do que aqueles jovens jogados na minha velha cozinha. Temos sofrimento acumulado e um amor transbordante.
A realidade é que a gente não queria se amar, simplesmente amamos, sem direito de devolução.

Nota: Diferente do último texto que tivemos aqui, quis uma coisa mais amorzinho e totalmente ficcional. Espero que tenham gostado.

                                                                         



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