Foto: Blog Adormecidas
Autor(a): Heloisa Bernardelli
Editora: P.S.:
Nº de Páginas: 228
Narração: 3ª Pessoa

Sinopse:

Anna e Alex se conheceram na madrugada em que a casa da família dela foi engolida pelo fogo; queimou todinha, do começo ao fim. Pelo menos foi o que ouvi dizer. Eu ainda não estava lá. Em compensação, estive lá por muito tempo depois. Rodando por Sheffield e os acompanhando bem de perto, com meus autofalantes entoando músicas que eles chamavam de indie, mas que pareciam apenas barulhentas para uma caminhonete velha como eu. Fiz silêncio enquanto eles liam. Enquanto cochilavam. Se apaixonavam. Ah, sim, eu flagrei todos aqueles olhares de Alex, que Anna nunca viu. E todos os sorrisos dela, que por azar ele não percebeu. Ouvi as declarações que não fizeram, as discussões que engoliram, o amor que aquietaram. Até que nos mudamos para os Estados Unidos. Alex, sua infelicidade e eu. Por muito tempo, fomos só nós. Mas existem boatos de que Anna está chegando. Talvez não no melhor dos momentos, é verdade, mas quem sabe assim ele pare de meter os pés pelas mãos. E, bem, na pior das hipóteses, ainda nos reuniremos outra vez, como nos bons e velhos tempos.

Nas palavras de "The Killers", "Agora estou caindo no sono/E ela está chamando um táxi/ Enquanto ele está fumando/E ela está dando uma tragada/Agora eles estão indo para a cama/ E meu estômago está embrulhado/ E está tudo na minha cabeça, mas/Ela está tocando o peito dele agora/Ele tira o vestido dela, agora, me deixe ir." Com certeza essa poderia ser a trilha sonora deste livro. Afinal, a história é uma grande tortura formatada em 228 páginas. Pois não é fácil está instalada na casa dos pais da noiva do seu melhor amigo (e por quem é apaixonada há anos) esperando o dia do casamento deles. É exatamente isso que Anna tem que suportar.
Anna e Alex são amigos desde a infância. Moldaram a vida um no outro desde então. Trocavam ligações de longa duração, silêncios duradouros, confidências, mas nunca tiveram coragem de assumirem o que sentiam de mais profundo um pelo outro. Parecia que em todos os momentos que poderia se encaixar um "mais" surgia um grande "porém". Dessa forma, a relação dos dois foi se distanciando cada vez mais, até chegar no dia que Alex vai entrar em uma igreja com uma mulher que não se chama Anna.
"Era de uma melancolia pouco familiar descobrir que até o calor da presença dele lhe causava incômodo, e, cada vez que ele se aproximava, seu coração parecia gritar, aflito para que Alex se afastasse antes que fosse tarde demais." Página 42
"Se Miss Lizzy Falasse" é uma grande viagem. Embarcamos no lado do passageiro e Miss Lizzy, uma caminhonete antiga, relata os anos de burrice de seu dono e a melhor amiga. Com o rádio ligado no último volume, tocando uma música indie/rock que certamente não conheço, ela fala que Alex viu a casa de Anna pegar fogo por inteiro quando ainda estava na casa dos 10 - ela sequer existia para os dois -, e que desde então não se largaram. Gostavam de serem dois estranhos, com gostos musicais parecidos e aversos a uma baladinha pop e romântica. O que é irônico, eu e Miss Lizzy rimos, afinal, a história dos dois se encaixa perfeitamente em "You Give me Something" do James Morrison - o que eles não gostam nenhum um pouco. Apesar da máscara de indies intoxicadores de pulmões, a vida os muda e os leva para caminhos diferentes.
Intercalando entre flashbacks do passado e dias antecessores ao casamento de Alex, o que a voz embargada de Miss Lizzy causou foi dor. Dor por ela e eu entendermos que tamanho sofrimento foi causado pelo medo e pelos vários momentos de silêncio dos dois. Silenciosamente, se reconhecendo no olhar um do outro, nas histórias e nos passos esquisitos de dança, sabem que são apaixonados um pelo outro, mas não dizem nada.
"Seu coração, o mesmo que parecia ter pego um resfriado violentíssimo pouco antes, de repente saltou de onde estava e esperneou aflito ao ver seu visitante mais assíduo bem ali, tão perto outra vez." Página 89
Talvez, e acho que a velha caminhonete concorda comigo, o pior papel nessa história seja o da Madson, a noiva. Apesar de ter chamado ela de burra incontáveis vezes, e por ela ser na teoria a personagem que separa os dois principais, deve ser muito doloroso perceber que o cara que você está prestes a se casar nunca vai te amar da mesma forma que ama a melhor amiga. Sinceramente, não entendo por que ela ainda se prestou o papel de ficar, só que ao mesmo tempo, sei que quando a gente gosta de alguém é difícil deixar a pessoa ir, mesmo sabendo ser o melhor para ela.
Nessa viagem com Miss Lizzy, atravessando anos, vendo Anna e Alex se tornarem melhores amigos, se apaixonarem, escutarem músicas até quase estourarem os tímpanos, dançarem, fumarem e beberem até demais, me tornei um misto de felicidade e tristeza. Felicidade de poder visualizar a beleza do amor do dois, como amigos e amantes. Tristeza em observar o medo, o silêncio e as tantas burradas que me fizeram praticamente gritar para as parentes e chorar igual uma louca em um sábado solitário.
"— O jeito como você olha para ela. Alex, você nunca me olhou dessa maneira, e eu não tenho certeza de que algum dia você vai." Página 145
Por fim, depois dessa montanha russa de sentimentos e praticamente uma road trip, o que tiro dessa história bonita e extremamente delicada, é que antes se nos entregarmos alguém, precisamos nos entregar para nós mesmos. Por que no fim, o "porém" que os separou por tanto tempo, se chamava Alex e Anna (Madson só tava lá pra sofrer, coitada).
Lembrando que a primeira versão da história está disponível no Wattpad, intitulada por Friendzone e vocês poderem adquirir este lindo livro no site da P.S.:.

              

                                                              

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