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A casa silenciosa. Os raios de sol entrando de fininho por trás da cortina, invadindo o quarto pintado de branco, assim como meus olhos sonolentos e inchados de choro. Sentada sozinha no meio da cama grande, enrolada em dois lençóis, escutando apenas o barulho do primeiro noticiário, perguntava-me quando aquilo ia passar. Por que viver doía tanto? 
Os dias eram cinza, cercados por ambientes claustrofóbicos. O ônibus lotado das seis e meia da manhã; a sala pequena de iluminação amarelada que dividia com mais 3 pessoas no trabalho; as ruas cercadas de prédios altos que não permitiam a visualização perfeita do céu; o barulho constante de buzinas; a poluição que preenchia meus pulmões. Então voltava para casa, com as pernas doendo por causa do salto, comia alguma coisa processada e gelada enquanto assistia ao mesmo canal até dormir e começar tudo de novo no outro dia. Isso era viver de verdade? Dias iguais. Caminhos iguais. As mesmas pessoas.
Com esses questionamentos, arrastei os pés sobre o piso frio. Hoje poderia ser diferente. Depois do banho tomado, de deixar a água lavar as impurezas do corpo e da mente, decidi sair. Parei sentada na areia da praia, observando o azul do céu se confundir com o azul do mar. As ondas se formavam pela força dos ventos, nasciam como gente, cresciam cheias de força, querendo levar tudo, e se derramavam como se não houvesse nada para trás, perdendo a força até se encontrar sugada. Eu estava assim, sendo sugada pelo peso da existência, questionando os parâmetros e sendo jogada de um lado para o outro em uma sociedade automática. 
Afundei na água salgada, enxergando tudo azul, puxei o ar e senti o calor dos raios de sol no meu corpo, assim como o brilho que impossibilitava a visão. Aquilo era viver: sentir o calor na pele ao mesmo tempo que se sente flutuar, com o salgado ardendo nas feridas e o líquido beijando-as em perdão. Quando saí do mar, decidi que iria fazer diferente, mesmo que doesse mais do que já doía. Pelo menos queria sentir a vida novamente, como naquela manhã de domingo.

Nota: Acho que fazia um bom tempo que a gente não vinha com um texto e é sempre necessário esse momento de pausa pra botar alguma coisa pra fora. Esse texto diferente dos outros eu fiz obrigada pela faculdade, mas gostei muito dele e acho que alguém pode se identificar e perceber como viver é diferente para cada um, mas todos passamos por certas angústias e que a melhor coisa é se permitir viver e ser feliz do seu jeito.
                                                                                

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