Hoje, faz cinco anos que eu decidi esquecer você. Não parece ser o tipo de coisa que se tem controle, embora eu quisesse acreditar que sim quando tomei essa decisão. Ainda mais depois de passar tanto tempo nutrindo aquele sentimento por você. Era tão incoerente alimentar algo que não me alimentava da mesma maneira... Se eu me arrependo? Bom, não. É, é a verdade. Depois desse tempo todo, finalmente percebi que não vai me doer admitir que talvez – e só talvez – eu não sinta raiva de todas aquelas declarações de amor. Nem mesmo vergonha.

Aquele momento foi um daqueles divisores de água. Eu posso delimitar a pessoa que eu era antes e depois do instante em que tomei minha decisão. E sem toda aquela baboseira de ser grata pela experiência vivida... Não. Estou falando de mim mesma.

Alguns anos atrás, eu falaria de você. Falaria das coisas que eu gostava em você, dos nossos assuntos preferidos, do que eu queria que fizéssemos no futuro. Falaria do porquê do meu pai aprovar nós dois, falaria sobre a minha mãe nos apoiar e até que a minha irmã adoraria te ter como cunhado, mesmo que eu não soubesse da veracidade de nenhuma dessas coisas. Isso porque eu gostava de sonhar com você. Gostava de imaginar que podia ser real de qualquer forma. Mas não era.

Foi só quando eu percebi – quando eu realmente percebi que você não era para mim, foi que eu virei a página. Sabe quando foi? Quando eu ouvi aquela música, aquela que eu chorava tantas vezes escutando e lembrando de você, e não senti nada. Te escrevi uma penca de cartas que você nunca vai receber. Chorei o que tinha que chorar. Contei para as minhas amigas que tinha te esquecido, para você ver como era um marco e tanto. Tinha uma parte de mim que chegou até a pensar que era só fingimento, que uma hora ou outra eu acabaria caindo por você de novo. Só que eu já não era a mesma pessoa um pouco depois disso.

Quando você me mandou aquela mensagem hoje cedo me desejando um feliz aniversário, passou tanta coisa pela minha cabeça. Fiquei o dia inteiro indo e voltando nas suas palavras. Antigamente, teria sido como abrir uma portinha para novas borboletas ainda mais vorazes atingirem todas as partes do meu estômago. Hoje, só me causou um riso. Um riso um tanto sarcástico, na verdade. Um riso de quem entende que já não é mais sobre você, embora um dia tenha sido.

A sua mensagem nesta data foi um lembrete da minha decisão. Está marcado que, neste dia, além de completar mais um ano de vida, é o dia em que decidi apagar você. Mesmo que você vez ou outra ainda tente voltar... Eu já não sou mais aquela pessoa. Eu não consigo nem fingir ser. Foi por isso que eu ri, porque ironicamente escolhi a data que me acompanhará pelo resto da vida para tomar a decisão de te esquecer. E mesmo que provavelmente eu lembre para sempre dessa escolha, nunca mais me sentirei da mesma maneira. Nunca mais sentirei o mesmo por você.

Eu tenho certo receio de escrever textos com conteúdos desse tipo porque eles não são reais. São baseados em experiências próprias, é verdade, mas estão muito distantes da realidade - hoje tampouco é meu aniversário. Só deixei que a minha imaginação fosse um pouco mais distante para realizar aquela vontadezinha de mostrar que estamos bem a quem um dia nos deixou na pior, mesmo sem intenção. Faz parte, o ser humano não é perfeito. | A imagem é uma foto minha com um trecho da música "te assusta" da Manu Gavassi. Acho que a música é mais sobre um relacionamento complicado, que está tentando se manter, mas eu assumi um outro sentido do trecho para ser coerente com o meu texto.
 

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