Foi a minha última leitura de dezembro e eu senti, dentro do meu coraçãozinho, uma necessidade de vir até aqui falar sobre ele porque eu não vou sossegar enquanto não fazê-lo.
Que ano 2016! Eu vivi coisas que jamais esperaria lá em janeiro do ano passado, mas que foram necessárias para o meu aprendizado. E como sempre, quando passamos por situações que nos ensinam muito sobre a vida, sobre o amor e essas coisas, caímos no engano de achar que sabemos tudo ou o suficiente sobre tudo. É aí que nos damos mal.
Eu não achei que sabia de tudo, mas não sabia que um livro como Eleanor & Park me acrescentaria tanto sobre o amor, principalmente sobre relacionamentos, quanto me acrescentou. Por isso a necessidade de falar sobre este livro que me marcou e certamente agora vive na minha história.

Eleanor & Park

Autora: Rainbow Rowell
Editora: Novo Século
Número de páginas: 325
Narração: 3ª pessoa com narrador onisciente (alternando o ponto de vista entre personagens)

um amor imperfeito e extraordinário.

Sinopse

"Eleanor & Park é engraçado, triste, sarcástico, sincero e, acima de tudo, geek. Os personagens que dão título ao livro são dois jovens vizinhos de dezesseis anos. Park, descendente de coreanos e apaixonado por música e quadrinhos, não chega exatamente a ser popular, mas consegue não ser incomodado pelos colegas de escola. Eleanor, ruiva, sempre vestida com roupas estranhas e "grande" (ela pensa em si própria como gorda), é a filha mais velha de uma problemática família. Os dois se encontram no ônibus escolar todos os dias. Apesar de uma certa relutância no início, começam a conversar, enquanto dividem os quadrinhos de X-Men e Watchmen. E nem a tiração de sarro dos amigos e a desaprovação da família impede que Eleanor e Park se apaixonem, ao som de The Cure e Smiths. Esta é uma histórias sobre o primeiro amor, sobre como ele é invariavelmente intenso e quase sempre fadado a quebrar corações. Um amor que faz você se sentir desesperado e esperançoso ao mesmo tempo."

É necessário falar sobre este livro. Sabe por quê? Nós temos a mania chata e descontrolada de generalizar tudo. Em tudo queremos colocar uma fórmula perfeita para dar certo. Ainda mantemos a ideia de que um relacionamento que dura mais de cinco anos dá certo e que algo que durou dois meses, não. Quando, às vezes, uma pessoa casada há cinco anos é extremamente infeliz, pois se acomodou, e um casal que resolveu pôr um fim naquilo que tinham com pouco tempo de namoro porque simplesmente era melhor assim - mas isso não significa que não deu certo; deu muito certo! Tão certo que acabou bem.

"Tocar a mão de Eleanor era como segurar uma borboleta. Ou um coração a bater. Como segurar algo completo, e completamente vivo." (página 74)

Eleanor & Park é um exercício mental para quem quer colocar esta fórmula em tudo. É um tapa na cara de quem gosta de padrão, e ainda mais de quem acredita que pra gostar de alguém é preciso que a primeira impressão seja perfeita. Não foi.
Eleanor é problemática. Podia existir um texto de apoio ou algo assim só para entender a família dela. A mãe é casada com um cara que a abusa violentamente, a condição financeira da família não é das melhores e o pai de Eleanor é distante, finge que a menina e os irmãos nem existem. Dá pra ser pior? (Nunca faça essa pergunta; sempre dá) Não que seja um problema ela ser gorda ou se vestir de um jeito esquisito - mas pra ela ou para o restante da sociedade em que ela vive, é um grande problema. A história se passa nos anos 80 e Eleanor está totalmente fora dos padrões que naquela época eram impostos pela sociedade.

"Ela nem dissera nada legal sobre ele. Não dissera que ele era mais bonito que todos os meninos, e que a pele dele era como a luz do sol bronzeada. E foi por isso mesmo que ela não disse. Porque todos os sentimentos dela, cálidos e belos em seu coração, transformavam-se em baboseira em sua boca.(página 114)

Park é o oposto. Sua família aparenta ter uma estrutura perfeita, os pais se apaixonaram e são até hoje loucos um pelo outro. A família se sustenta bem e vive bem, com bons diálogos, boa convivência - vez ou outra Park bate de frente com o pai em um conflito de gostos e atitudes, mas acaba se resolvendo, enfim. Park é um garoto quieto, não muito popular, mas que não é incomodado por ninguém. É fã de HQs e bandas de rock da década de 1980, o que proporciona ao livro uma série de referências maravilhosas à músicas e histórias em quadrinhos da época.

"Você salvou minha vida, ela tentou dizer. Não para sempre, não definitivamente. Provavelmente, só por certo tempo. Mas salvou minha vida, e agora eu sou sua. O que sou agora é seu. Para sempre." (página 311)

É no primeiro dia de aula que Eleanor entra no ônibus e não há um lugar para se sentar que não seja ao lado de Park. Os lugares são marcados, o que significa que pelo restante do ano, ela teria de se sentar ali. A partir disso, mesmo que no início haja certa resistência por falar um com o outro, Park dá o primeiro sinal de que, de alguma forma, quer ter algum tipo de diálogo com Eleanor, quando deixa sobre o seu banco algumas HQs, depois de perceber que a menina lia as histórias junto com ele por cima do ombro. Depois disso, torna-se um hábito o empréstimo das HQs, assim como dicas de músicas e conversas a respeito.
Eles começam a se envolver da forma mais natural e fofa possível. O livro é muito bem elaborado nesse quesito: ambos respeitam o espaço um do outro e aos poucos vão criando aquilo que, depois, chamarão de namoro. Park é o tipo de garoto que eu queria muito, com todo o coração, que existisse na vida real. E Eleanor, mesmo com toda a complexidade da sua cabeça e com os problemas em casa, se permite viver esse amor inocente, gentil e que me marcou de diversas formas.

"Se ela tinha saudade? Queria perder-se dentro dele. Amarrar os braços dele em torno dela feito um torniquete. Se lhe mostrasse o quanto precisava dele, ele sairia correndo." (página 158)

Li o livro em um momento crucial. Como se alguma força divina pudesse controlar isso, entendi que o fato de eu ter demorado tanto pra ler foi por uma boa causa, e eu li no momento certo, em que realmente se encaixou. Trouxe-me o entendimento de que certos amores são assim, para surgirem e nos marcar, simplesmente, e não para durar eternamente. E me lembrou o quanto é maravilhoso amar nessa idade, na minha idade, e que esse momento agora em que vivo é único e mesmo que eu tente, nunca viverei algo parecido de novo.
O único ponto em que não me senti tão entusiasmada com o livro fora o fim, o desfecho que a história levou - que me fez ficar pensando nela por horas depois de ler, mas que me trouxe a convicção de que era preciso aquele final para que toda a mensagem fosse passada com êxito (pelo menos pra mim. Lembrei, também, muito do filme (500) Dias com ela ("(500) Days of Summer"), porque Park me lembra muito o Tom e, bom, talvez seja só por isso mesmo. De restante, se você curte romances YA sem finais previsíveis, se você gosta de um bom livro com referências maravilhosas acerca dos anos 80 e se está pronto para se apaixonar por Eleanor e infinitamente mais por Park, este é um livro que eu te indico.

"Talvez eu não sinta atração por meninas de verdade, pensou ele na época. Talvez eu seja uma espécie de tarado por gibis. Ou talvez, pensou ele mais tarde, ele não reconhecesse todas as outras garotas. Do mesmo jeito que um computador cospe fora um disquete se não lhe reconhecer o formato. Quando tocou a mão de Eleanor, ele a reconheceu. Ele soube." (página 75)






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