Eu nunca acreditei na mudança total. Uma pessoa pode mudar, é
claro, mas sua essência fica, e querendo ou não, os defeitos permanecem. Mudar
da noite pro dia, então, é impossível.
Sendo sincera, eu nunca me deixei gostar de ninguém justamente por medo
de mudar. Isso mesmo, era medo. E eu achava que estava certa. Que sabia de tudo
e que estava fazendo o que era certo. Eu só não sabia que seria um garoto de 17
anos, com um rostinho bonito e bom de papo que viraria minha vida do avesso e
que esse seria o meu lado certo.
A gente se conheceu quando eu fui fazer um cursinho de
pré-vestibular no colégio dele. Ele foi também, na mesma turma. Meu plano era
fazer as três semanas de cursinho dessas férias sem me misturar com ninguém.
Não precisava conversar nem socializar. Meu foco era apenas estudar e voltar às
aulas de terceiro ano do Ensino Médio logo após uma semana do fim do cursinho.
Mas é justamente quando a gente decide fazer esse tipo de coisa que a vida vem
e quase diz literalmente: “nananinanão!”.
Pois bem, de cara ele veio falar comigo. Primeiro dia de aula, professor
simpático com aula dinâmica. Mas ele tinha que vir falar comigo. Começou perguntando
onde eu estudava, já que nunca havia me visto por ali. Depois perguntou meu
nome, minha idade, o que eu queria cursar e só depois questionou se eu me
incomodava com a sua presença.
“Não, imagina”, eu respondi. É claro, não ia
dizer que sim, me incomodava. Minha mãe me educou muito bem e eu sabia que isso
me faria passar por antipática, mal humorada e até mal criada. Mas eu esperava
que o fato de não puxar assunto fosse fazê-lo desistir de mim. Pelo contrário,
ele insistiu. Os dias se passaram, e todo dia ele se sentava ao meu lado,
perguntava coisas como “tudo bem?” e “o que você vai fazer hoje depois daqui?”.
Na segunda semana, ele já até falava da família e perguntava da minha. Falou-me
de seus filmes favoritos e das bandas também. Nos intervalos, eu conversava com
ele sobre tudo, não exatamente porque eu queria – ou pelo menos eu achava que
não –, mas porque ele falava sem parar sobre tudo, e me fazia várias perguntas.
Na terceira semana, eu confesso que me peguei pensando em
como seria não ter alguém me perturbando o tempo todo. Foi pouco tempo, mas eu
tenho certeza de que aquele garoto sabia mais sobre mim do que outras pessoas
que há anos convivem comigo, simplesmente porque ele queria saber. Se importava
e perguntava mesmo, sem medir a língua. Até que o último dia chegou, e
estranhamente ele estava calado. Chegou e me desejou bom dia. Mas ficou calado,
apenas escrevendo no seu caderno e me olhando vez ou outra, dando um sorrisinho
triste. Devo dizer que algo em mim achou aquilo bem fofo e eu até tive vontade
de inverter os papéis e lhe fazer diversas perguntas. Mas eu não consegui. Não
sei e nunca soube puxar assunto.
O intervalo passou e ele não falou muito. Voltamos para a
aula e entre a troca de professores, o que demorava mais ou menos 10 minutos,
ele se virou para mim e disse: “eu vou
sentir sua falta, mesmo que você não goste de falar muito”, e eu sorri para
ele de uma forma fraterna. A verdade é que eu queria abraçá-lo, queria dizer
que sentiria sua falta e que gostaria de manter contato, pois mesmo que ele
tivesse forçado uma amizade, funcionou e eu gostei muito de conhecê-lo. Mas
antes que eu tivesse coragem de dizer qualquer coisa, ele disse: “Sabe por que eu falei com você no primeiro
dia?”, e eu acenei negativamente. “Eu
gostei do seu olhar perdido e do seu cabelo caído por cima dos olhos; gostei do
seu jeito calado e da forma como você só sorria educadamente após todo o meu
monólogo. Eu gostei de você, um tipo de paixão à primeira vista. Me desculpa
pelo meu jeito, tá? Eu só gostei de você.”, disse como quem informa as
horas. E eu não sabia como responder àquilo. Eu nunca soube.
Depois daquele dia, do último dia, nós trocamos os números e
nos falávamos todos os dias. Na primeira semana de aula, ele foi até me visitar
na minha escola depois da aula. E ele foi participando da minha vida,
preenchendo espaços vazios desde sempre e que eu nem sabia que existiam. Ele
foi sendo ele mesmo, sempre falante, sempre alegre e disposto a me fazer
sorrir. E eu fui aprendendo a ser menos rabujenta. Fui me acostumando a dizer
bom dia para todo mundo, a me importar com as pessoas. Em pouco tempo, eu já
até conseguia dizer que eu realmente gostava dele também. E a gente foi se
gostando, se adorando, se amando. Até ele me dizer, em alto e bom som: “você quer namorar comigo?”. Nós já
tínhamos vivido tanto. Por que não? Eu disse sim. E foi como oficializar algo
que já existia. Além de namorado, eu tinha um melhor amigo. E há dois anos e
quase três meses eu sou a pessoa mais feliz do mundo.
Antes, eu achava que sabia de tudo. Eu só não sabia que seria
um garoto de 17 anos, com um rostinho bonito e bom de papo que viraria minha
vida do avesso e que esse seria o meu lado certo.
Nota: Vez ou outra eu acabo escrevendo estes textos e no fim eu gosto do que sai deles. Desse aqui eu gostei bastante; onde andam os garotos assim, hein? Resolvi postar também porque há tempos não postava nada parecidos, então aqui está. Espero que gostem, até a próxima!