Eu preciso desabafar, mas o horário não permite que eu procure por alguém. Estou tentando conversar, estou tentando socializar e deixar as coisas como eram antes, mas me parece impossível. Eu sinto um tom de deboche, de descaso ou descrença de tudo que meus amigos dizem, e eu não consigo evitar. Como se eu tivesse tentando lutar contra algo de muito horrível que disse ou fiz. Não sinto mais o entrosamento de antes, não sinto mais que as pessoas podem confiar em mim, porque elas simplesmente não confiam. Sempre fui do tipo de amiga que tive amigo de todo jeito, de todo lugar. Há quem me odeie, e que não queira chegar nem perto de mim. Mas há quem me aceite como sou, e no momento, a única coisa que eu sinto é que eu perdi essas pessoas. Pode ser bobagem minha, pode ser ilusão ou consequência da distância - uma distância de menos de um mês, pra ser exata. Mas estou insegura quanto a tudo aquilo que eu tinha certeza: a lealdade de uma amizade, a preocupação em saber se aquilo daria certo e um medo de que certas coisas tenham atrapalhado tudo.
       Não é possível que não consigam perceber tudo isso. É aquela coisa que antes eu disse: não me sinto entrosada. E por causa disso ou por qualquer outra coisa, eu também não sinto que as pessoas estão fazendo sequer uma coisa pra mudar a situação, se é que de fato elas se preocupam ou perceberam isso. O clima parece tenso, as pessoas parecem querer sempre dizer algo, alguma coisa que as incomode, mas ela se calam. Preferem guardar o rancor, a reclamação, a crítica, e perpetuar o joguinho de palavras e indiretas que são o que mais me machucam. Eu procuro por outras pessoas para desabafar; não há ninguém. Eu percebo que nessa inteira confusão que minha vida é, eu perdi pessoas importantes, ou ainda estou perdendo aos poucos, pessoas essas que eu quero que fiquem. Não só por ficar, pra marcar presença. Mas que fique pra me mostrar que vale a pena ficar.
       A amizade é uma das coisas mais importantes na minha vida. Talvez um pouco da audácia me seja importante para alguns momentos mais críticos; erudição me é benéfica; a abnegação pode me fazer crescer como humana; e a franqueza é essencial para momentos em que exija de toda a minha sinceridade para conselhos precisos. Mas a amizade, acima de tudo a amizade, é uma coisa da qual eu não vivo sem. É a minha segunda família, na falta quase sempre notada da primeira. É com quem eu posso contar, contar tudo, desabafar, ter com quem discutir sobre livros ou adaptações para cinema ruins, com quem eu posso assumir descaradamente um erro meu, e ainda fazer piada sobre ele, porque eu sei que não vão me julgar por isso. As melhores coisas da vida não são coisas, e eu sei bem disso. Não quero que ninguém saia da minha vida, pois estou cansada de amores quebrados. As minhas amizades são as melhores coisas. São quem eu penso num momento engraçado quando estão longe, e torço para que logo eu possa contar; são por quem eu rezo todos os dias para ter saúde e tudo de bom; são por quem eu torço que tenham uma vida cheia de realizações. São pessoas de ouro, que me acolheram e que eu acolho sempre, ou pelo menos era assim. Eu quero tudo isso de novo, sem que me doa e sem que me humilhe. Ainda me sinto um lixo, vazia, mas menos culpada por ter conseguido escrever.

Nota: Estou impressionada por conseguir escrever, sinceramente. É pessoal, e eu não sei dizer o que estou sentindo agora. Eu não pensava em escrever nota, mas fiquei surpresa com a forma como terminei - fora no momento certo -, eu não conseguiria perpetuar o texto e teria que acabar ali mesmo. Texto fora de hora com muita da minha confusão. xoxo,

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