Adentrei ao bar, e logo ouvi um louco, provavelmente bêbado, cantando no karaokê. Naquele meu mau humor matinal no qual eu me encontrava, de cara quis ir embora. Já ia dar meia volta e esquecer aquela ideia idiota de tomar um porre só porque me encontrei numa confusão impossível de ser organizada que alguns conhecidos chamam de "vida". Mas algo me fez olhar ao redor; não era possível que apenas eu estivesse incomodada com aquele som. E eu estava enganada, para variar. Todo mundo ali estava curtindo a música, mesmo que alguns estivessem no auge da bebedeira e outros estivessem sóbrios o suficiente para cantar junto com o cara. Uma mulher com um copo de uísque na mão dançava incontrolavelmente, como se aquela fosse a sua última chance de dançar algo tão contagiante. Sim, contagiante! Em alguns segundos que observei as pessoas ali, eu já estava querendo dançar, beber e me divertir com elas, o que era muito estranho: eu não gostava de socializar nem com conhecidos, dirá pessoas que eu vejo pela primeira vez.
         Pedi ao barman algo muito forte e, seja lá o que fosse aquilo, desceu queimando pela minha garganta, o que me fez sentir viva depois de muito, muito tempo na minha vida. E logo, como vê que não sou muito de beber, já estava alucinada o suficiente para estar sentada em um dos bancos do bar dançando ao som da voz um tanto estridente do cantor do karaokê, sussurrando o refrão da música "What's Up" junto com ele. Uma tristeza profunda começou a bater no meu peito. E eu, em minhas alucinações, disse a mim mesma: ei, o que está acontecendo? Eu sabia que era momentâneo. Sabia que amanhã vou acordar de manhã e sair, respirar profundamente e, então, ficar bem. E mesmo que ainda não fique totalmente bem, irei gritar do máximo dos meus pulmões para pôr pra fora tudo isso.
         Depois que eu permiti que algumas lágrimas caíssem, vendo que algumas pessoas ficavam de pé ao meu redor e dançavam, preparando-se para o refrão mais uma vez, eu me juntei a elas. Ríamos, cantávamos, dançávamos, bebíamos e ríamos novamente, e nem mesmo sabíamos o nome dos que estavam ao nosso redor. Com as mãos levantadas e num súbito ato que só gente bêbada comete, eu sussurrei aquela estrofe da música, que dizia: e eu oro meu Deus, eu oro todo dia por uma revolução... "Revolução na minha vida", completei, apenas para mim.
         E antes que a música acabasse e eu voltasse a chorar, voltei a sorrir e a gritar, alegre demais para deixar a depressão chegar. Foi então que eu percebi que apesar de que no dia seguinte as coisas podiam se acertar (ou simplesmente continuar da mesma forma horrível em que se encontram), eu precisava deste momento com pessoas que nunca vi na vida, mas que estão na mesma situação em que eu: procurando esquecer o mundo do outro lado da porta do bar por meras duas horas e focar ali, naquele único e suficiente motivo. Por fim, mesmo que não as conhecesse, eu sabia de uma semelhança gritante entre todos nós, que exalava de nossos corações e vozes no finzinho da música: felicidade.

Nota: Não sei se recordam-se do post que fiz falando sobre Sense8, que é atualmente a minha série favorita (caso não, veja aqui). Um dos meus episódios favoritos é o quarto, devido a uma cena em que todos os sensates cantam juntos a música "What's Up", da banda 4 Non Blondes. Eu já conhecia esta música, já havia escutado em rádios. Mas, depois de ouvir no episódio, sempre que escuto a música, eu tenho vontade de dançar, gritar o refrão, sair pulando por onde quer que eu esteja. E foi escutando-a que eu quis escrever este texto. :) Como sempre fazia, também existem trechos da música em alguns parágrafos. Eu ia trazer o vídeo em que eles cantam juntos, mas algumas cenas não me permitiram tal ato. Então, fiquem com o clipe original (que não é tão bom quanto eles cantando - na verdade, é bem louco -, mas é o que a censura permite):


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