Aqui vos digo, 
        Não é só você que sente saudade, muito menos apenas eu compartilho esse sentimento com você. Existem vários tipos de saudade e até hoje continuo achando a pior aquela tal de distância. Sabe, não a distância de milhares de quilômetros, a distância do perto, de saber que aquela pessoa está perto de você e você a perdeu. Sentimos saudade daquilo do passado, daquilo antes da distância, da fase boa, que passou tão rápido. Às vezes, olho para o meu redor e vejo que eu sou uma grande confusão de todos esses sentimentos juntos. Já perdi tantas coisas e o buraco da saudade se tornou quase infinito. Outras vezes, sinto saudade do que eu nem tive, do que talvez eu nunca irei ter, e me lembro que são todas as coisas erradas da minha vida que me fazem distanciar de todos, me distanciar de mim mesma. É como se eu quase estivesse conseguindo entrar no meu eixo, e uma onda vem, e me derruba daquilo que demorei tanto tempo para construir. Nesse ponto começo a distanciar de mim, percebendo que a saudade já me engoliu. 
        E eu não conjugo saudade no plural. Pra mim, saudade é uma só, no singular, e assim basta para me doer dos pés à cabeça. Saudade é assassina, anda com uma lança em uma mão e um vidro de veneno na outra. E o pior é que ela sempre anda com a vítima, lado a lado, mais presente do que nunca. A vilã, em si, é melhor amiga da solidão. Caminha com ela por toda a vida, e sempre faz visitas aos que sofrem de ambas. E da saudade que eu sinto, duvido até que você desconheça. É das mais cruéis e assassinas. É aquela saudade de algo que eu nunca tive, mas que por algum motivo, ainda assim, eu sinto falta. E o ponto a que quero chegar não é apenas esse, mas também naquela saudade de bons tempos, daqueles que eu sei que jamais irão se repetir. É a saudade de momentos, de memórias, que aos poucos vão se misturando ali pelas ondas do esquecimento. 
        A minha saudade, eu carrego na mala. Vez ou outra, eu gosto que ela apareça. Não sei se você é assim, mas eu gosto da sensação de sentir saudade. Às vezes, eu acho que cai bem. Porque por mais que eu sinta saudade de algo que nunca tive ou que nunca aconteceu - e que isso seja, na verdade, uma saudade da imaginação - esse sentimento prova que algo aconteceu, que algo eu senti e que foi real. Se hoje eu sinto falta, é porque teve alguma coisa, é porque doeu e eu sofri para me separar daquilo.
        Mas uma coisa eu aprendi com toda essa melancolia presente em mim: se permita sentir. Se permita gritar, se iludir, chorar. Se permita, pois nós temos somente esse lugar como nosso, e reivindicá-lo não faz mal. Sentimos tantas coisas e sempre sentiremos. Por mais clichê que isso soe, a vida é uma eterna dor e não precisa ser masoquista para senti-la sempre. Apenas saiba que uma hora passa, uma hora a agonia cala, a ficha cai, você segue em frente e se permite reformular novas memórias ou novas aventuras imaginárias. Basta se permitir.


N/A: Mais uma cartinha! Não conseguimos descrever nossa tamanha felicidade em conseguir escrevê-las, cada vez com um tema diferente, e o de hoje, especialmente o de hoje, mexe muito conosco e com tudo o que vivemos todos os dias de nossas vidas. Esperamos que gostem. Até a próxima!

2 Comentários

  1. Existem realmente vários tipos de saudades, Isa. Mas todas doem, doem e muito.
    Adorei :D

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    1. Saudade nunca foi e nunca será uma coisa boa (pelo mesmo para mim), não faço muito a linha masoquista.
      Volte sempre!

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