Querido pai,

Na verdade não sei se o senhor é mais querido, são só formalidades, que dizem que sou sua filha. Posso ser sua filha, mas você não é mais meu pai. A muito tempo tento escrever sobre várias outras coisas com a esperança de que não teria que chegar a esse ponto. Você nunca vai ler! Estou cansada de criar falsas esperanças com o senhor, estou cansada de esperar. Eu te amo, muito, mas as vezes só amar não resolve, não posso amar pelo senhor. 
Lembro de quando tinha 3, 4, 5 anos, o senhor permanecia comigo sempre, era o meu ponto seguro, meu super-herói, que eu idealizava, isso sumiu. Não é pelo fato de que eu "cresci" que eu preciso menos de amor, que eu não sinto falta das suas ligações todos os dias, que eu não sinto falta de ter assunto para falar com o senhor, que eu não fique mal toda vez que eu te ligue e não saiba o que falar, por que você não sabe nada sobre mim, você (você sim, não merece o meu respeito) desaprendeu tudo o que sabia sobre a própria filha, você não sabe a minha cor predileta, não sabe que escola eu estudo, o ano que estou fazendo, talvez esqueceu a minha própria idade, não sabe se eu já me apaixonei, se eu namorei, não sabe o nome de nenhuma amiga minha. Você sabe quem eu era, não quem eu sou.
O incrível de tudo é que eu posso falar tudo isso para você, no segundo seguinte você estaria rindo, achando que são besteiras da minha cabeça, e por isso eu me machuco mais, pois eu não consigo desistir do senhor, e a cada palavra dita, voce desiste de mim. Aliás você desistiu de todos, fechou os olhos, tampou os ouvidos e fingiu que estava tudo bem, lamento lhe dizer que não está. Eu queria muito, muito mesmo, dizer que tudo vai se acetar, essa não seria a verdade, e eu já estou cansada de mentiras. Talvez nada disso você compreenda, afinal, coloca todo mês dinheiro na minha conta, como se isso fosse ser pai. Sabe, o dinheiro não cuida de mim, não me dá carinho, atenção, não me ama, o que estou achando partículamente que você não faz mais. Magoa  muito sair da sala de aula, e ver país esperando na porta, ou falando com o filho pelo celular. Magoa sair com minhas amigas e ver os pais delas vindo me deixar, e sabe, sou extremamente feliz delas não terem um pai como o senhor. É, eu to cansada de negar.
As nossas ligações tem dias programados, um assunto sempre certo, e o tudo bem? Nem sempre é respondido com verdade, eu seguro as lágrimas, pois ninguém merece sentir a dor que você me causa, eu seguro as lágrimas e tento sorrir todos os dias, pois eu sei que você perdeu os direitos das minhas lágrimas. Eu ando tão incerta e com medo, só queria a sua ajuda, a sua palavra, por monossilábica que fosse. Queria contar com a sua visita no hospital quando eu estivesse doente, queria que você estivesse ao meu lado no meu ABC, você não tem noção do quanto foi difícil uma menina de 6 anos, não ver o pai em um dia tão importante, e isso vem se repetindo desde então, cada vez, dói mais, por que eu sei que você está em algum lugar dessa cidade, com talvez os filhos que nem são seus. Mas o que posso fazer? Tenho que agradecer pelo amor que as pessoas me dão, amor tão puro que você nunca me dará.
Bem, não quero mais falar, mas preciso dizer uma última coisa: sempre que eu penso quando minha vó e mãe morrerem, me pergunto para onde eu vou? E descubro que vou ter que ficar sozinha, pois o senhor não será mais uma opção.


Nota: Bem, nem precisava de nota, muito menos do meu nome aqui, mas acho que passou do tempo de eu me esconder por trás de um sorriso, e hoje eu tirei um peso sobre as minhas costas, e sei que a partir de hoje estou sendo inteiramente verdadeira comigo mesma. Apesar dos problemas, não podemos desistir de nós, e essa é a minha forma de dizer que não desisti de mim. Obrigada por lerem, ou mesmo os que não leram, isso é a minha válvula de escape. Obrigada.

                                                                           

Deixe um comentário